segunda-feira, 2 de março de 2015

O QUE TEM VALOR


O QUE TEM VALOR

Na vida, o que mais me impressiona é o ser humano, me deparo com cada tipo. Todos os dias, o tempo inteiro. Tipo de manhã cedo, quando eu acordo. No almoço, na esquina, no lanche, na virada que a vida dá. Até a noite quando está escuro e ninguém vê. Separo algumas poucas pessoas que, juntas, somam pouco menos que três. Dou preferência às pessoas de valores parecidos para que a convivência seja um pouco melhor. Contudo percebo que até mesmo as pessoas com pensamentos um pouco diferentes possuem uma sintonia forte. Mesmo assim ainda corro o risco de ter apenas uma pessoa ao meu lado em momentos difíceis. Dizem por ai que há pessoas com cerca de 10 à 30 amigos, que são as que comumente sobram em minha seleção. Tenho visto tanta coisa, e me surpreendendo com atitudes de outras, que sinceramente, tem dias que faço questão apenas dessa única pessoa. Prezo pela qualidade e caráter inerente a cada ser e, do que adianta falar que vai fazer, se lá na frente as atitudes não são as mesmas que foram ditas. Nada acontece, foram só palavras. Dizem que eu sou radical demais. Do tipo intensa, que atravessa a tempestade com o corpo em chamas. Mas ainda me considero inocente ao permitir que alguém me engane e me faça mal. É difícil confessar que já olhei para o lado e depois para o outro, procurando por alguém que nunca existiu – quando temos alma pura nos deixamos levar, acreditamos na verdade da palavra. Triste, mas existem pessoas más, sem caráter, que nos julgam mal por inveja. Almas pequenas que não cabem no grão de areia da minha praia imensa.

Dor é a voz que cala após perder a fala. O som que ecoa num vácuo vazio. Se eu tivesse o meu barulho de volta, não aumentaria o tom de voz, mas seria como se estivesse gritando. Seres pensantes, de ambos os gêneros, julgam por vontade própria, depois de criticar erroneamente, depois de tentar esconder a própria fraqueza frente e verso no espelho, depois de perder até mesmo a dignidade ou depois de depreciar o outro na tentativa de igualar o nível. As pessoas, homens e mulheres, como uma prova de ignorância e um sinal de imaturidade, criticam por instinto de sobrevivência e até por falta de informação – o que me parece bastante perdoável.

Muito mais sofrido do que julgar o próximo é fingir aceitar a vida que leva. Incrível, como tem sempre alguém que mal te conhece e só te vê de longe em um lugar que freqüentam sempre. Mesmo com pouca intimidade, tem a coragem em dizer. "Nossa, como você está magra". E eu já sei que vai perguntar o que você fez ou criticar dizendo que está feia, e forte, e magra demais. Engrena então alguns minutos num papo superficial. Você emagreceu, né? Sim, um pouco. Está pele e osso mesmo. Nem tanto. É, mas você já está muito magra, e forte, e feia.

Em nome de um mundo menos preconceituoso, eu poderia ter dito à todos aqueles que julgam o próximo pela aparência "feio é o seu julgamento.. Feio é o seu preconceito... Feio é a sua falsidade" mas o fato é que falar nada adianta, porque a criatura mal se olha no espelho já que perde tanto tempo vivendo a vida dos outros. A inveja parece ter forma humana. É ela quem aponta o defeito do outro. É ela quem dá valor apenas a aparência. É ela quem te dá a mão e te empurra ao mesmo tempo. E quando estiver em um ataque de pânico, a inveja vai rir de você.

Feliz daquele que não julga. Muitas vezes não compreende bem as atitudes dos outros, mas aceita as diferenças. E leva no coração o que tem valor de verdade: ...

Texto: Laila Guedes

*Imagem que ilustra a coluna do Traços, riscos e rabiscos.

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