sábado, 16 de abril de 2011

Sem Chão 07

Você quer voltar para um lugar
Onde não há mais ninguém
Onde não mais nada
Apenas o vazio

Isso não te serve mais
É um tolo apego emocional, ocasional
Mas de tempos em tempos
O que vem e dá e passa
Já é hora de se livrar
O que brilha e ilumina e esclarece
Pois nada aqui mais te serve

Nem mesmo essa dor
O que prende e apega e rasga
Que já foi e já passou
Descarte sem piedade, sem dó, sem culpas
Pois em meio a solidão, o que realmente importa?

Tudo pode parecer escuro
Mas se tornará claro
Sinta o natural das luas cheias
Compreenda, entenda, desamarre
Olhe para seus pés
Deixe-os assim, livres, soltos
Nesse vazio que te dá, deixe-os assim
Não tão somente feitos para andar
Mas também libertos para tocar o céu
Nesse vazio de luar sem chão, deixe-os voar

sábado, 9 de abril de 2011

Faíscas

Você me conhece tão pouco. Ao ponto de não chegar nem na metade de mim. Mas não se preocupe, ainda terá que repetir o seu viver muitas vezes. E ainda assim, não irá me conhecer por completo.

...

Esperei, esperei. Passaram-se os minutos, as horas, os dias, os meses, os anos. O desejo passou, e eu adormeci.

...

O processo é tão natural, que independente da minha vontade. As palavras me vem, e enquanto eu não escrevo a agonia não passa. A vontade, a inquietude, a agonia... desejam ser expostas. Então eu escrevo... meio inconsciente, eu escrevo porque apenas escrevo. É como se houvesse algo maior do que eu, mais forte, algo desconhecido que me faz escrever e escrever. E alivia, mas logo depois volta a agonia, a inquietude, e daí então, escrevo coisas e coisas e mais coisas. Tais coisas que são meramente sensações. Sinto-me inteira ao escrever. Apesar de muitas vezes escrever descontroladamente. Outrora, escrevo apenas uma palavra. Mas a minha tristeza maior é quando não consigo escrever nada. Essa morte das palavras é como um vazio, me deixa sem vida. Mas ainda estou esvaziando palavras que me completam, na esperança que algum dia alguém consiga me ler por inteira. Serei eu descoberta nesta vida?

...

No dia em que não conseguir escrever mais nada. Acredite, eu morri!

Sem Chão 06

Olhe no profundo do que posso ser
Escute o meu silêncio
Grite sem dizer nada
Não consegue compreender
Eu sou o melhor de você

Eu imploro, choro sem ver
Só de pensar me faz enlouquecer
Esse olhar caído que me diz tantas verdades
Mesmo que a raiva venha
Não sei mais se consigo esconder
O que vai dentro de mim
É tão seu quanto meu

Sinto-me estranho só de pensar
Nessa imensidão diante de nós
A pedra que me apóia
É trampolim do abismo
Pois diferente de está só
É sentir a solidão

Preciso do ar para voar
De um lugar infinito
Irei me jogar de olhos abertos
Mesmo sem asas eu consigo voar
Pois para eu me entregar
Preciso que tudo esteja assim, sem chão

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sem Chão 05

O que o torna tão meu
Se nunca tive nada seu
O diferente seria se eu fosse única
Mas essa loucura nos cega
Nos faz diferente do que somos

Eu já nem sei mais o que sou
Somente se você for diferente
Muito cedo é tarde demais
No mais, irei deixar de te olhar
Me deixe dormir agora
O meu olhar está caído
Cansado de olhar e não te encontrar
Nos perdemos antes mesmo de nos ter

Agora que irá me censurar
Eu perco a razão por te amar
Essa loucura que é paixão
Essa nossa loucura de ir e vim
Essa loucura, ah essa loucura sem razão

Será que não percebe?
Estou cada vez mais distante
E isso me desespera
Vivo sem controle, sem razão, sem tua mão

Confesso, sou impulsiva por amar sem pensar
Nem sei de onde vem essa força que me empurra
Mas hoje não irei abaixar a cabeça
Corro o risco de ver tudo sem chão

Sem Chão 04

Por quantas vezes
Eu me sentir correr sozinha
Só por não te ver sorrindo
Me afastei na sua distância
Sem intenção, sem pretensão, uma mágoa

Por quantas vezes
Você me fez partir
Só por não conseguir me ver
Por orgulho, partiu e seguiu
Sem mim, sem nós, num fim

Por quantas vezes
Meus dedos percorreram os traços do seu rosto
Desenhos de uma imagem que criei
Meus olhos não te reconhece
Mas o teu cheiro, eu nunca esqueci
Aroma que completa tudo o que faltava
Todo o meu vazio, todo o meu ser, todo o meu viver

Por quantas vezes irei lembrar
Dos risos mais sinceros
A cama vazia
A falta que me dava
O suor do teu corpo junto ao meu
O seu lugar, o meu lugar, em nós existirá

Por quantas vezes irá se esconder
Saia desse canto escuro
O que te faz ser tão retraído
Do teu lado esquerdo há uma porta
Abra, e deixe-me entrar
Sem medos, sem defesas, permita-se

Por quantas vezes abri os braços
E me lancei ao ar
Sensação do vazio frio
Sem destino, sem pensar, sem certezas do que virá

Por quantas vezes pensei em voltar
Refazer, recomeçar
Construir, desconstruir
Resgatar... não entenderei
Mas confesso sentir algo a mais
O amar já é contraditório no meu gostar

Estou desesperada
Como viverei sem ter você
Se já mergulhei sem o teu abraço
Só me restou o vazio no peito
Entre soluçar quase nem sinto as lágrimas gélitas me tocarem
Não enxergo nada, estou tonta
Eu apenas mais uma, mais uma sem chão

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sem Chão 03

Das últimas vezes em que te vi
Dormi mal
Não me recordo de ter acordado
Nem mesmo se dormir por um instante

Meus olhos não se fecham jamais
Estranhamente senti não fazer mais parte dali
Eu, deitada ao seu lado
Não, nunca foi o meu lugar

E eu perdida diante de um tudo
Onde eu só queria voar
Mas me faltou o ar
Me faltou o mar
Me faltou a coragem de pular

Se o que me falta me vem agora
Um simples despertar
Em um breve olhar
Tua alma desnuda
Transparente, translúcida
Como alguém fora, fora do ar
Sem nota, sem tom, sem som, sem chão

Sem Chão 02

Desejo que a minha luz se mantenha acesa
Pois nessa escuridão já não caminho direito
E ao cair terei a certeza da falta que me faz
De uma mão que nunca foi estendida
Pois de mão dadas nunca caminhamos

Essa sua mão mal resolvida
Essa sua mão recolhida
Se perdeu ao tentar encontrar a minha
Que tanto queria, que tanto me retraia

Deixe-me só com a minha solidão
Ainda está claro
E sinto o vento tocar a minha alma
Neste instante, sinto a leveza do meu ser
O alívio do ardor me faz crescer

Mas triste do que isso seria
Se eu não tivesse palavras
Pois sinto que te perdi antes mesmo de encontrar
Meu coração dói ao dizer isso
Mas tenho que aceitar que o fim chegou
Ou talvez o começo nunca tenha chegado
Mas sabe, a loucura me fascina

Não é rua sem saída
Não é estrada
Não é caminho
Até porque eu já nem sei mais que nome tem isso
Pois tudo que construiu foi assim, meio sem chão

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Sem Chão 01


Tudo anda assim meio confuso
Talvez eu tenha tudo
Talvez eu não tenha nada
Mas antes que eu esqueça, segure-me

Tudo surge assim meio absurdo
Talvez eu seja a solidão
Talvez eu não seja mais alguém
Mas antes que desapareça, segure-me

Tudo parece assim meio virado
Talvez eu pense em ficar só
Talvez eu não pense em mais nada
Mas antes que eu vá embora, segure-me

Sinta, sinta, sinta as lágrimas queimarem
Segure a minha mão agora
Segure-me nos degraus
Segure-me, eu vou errar

Não, não, não me deixe assim
Segure a minha queda agora
Segure-me nos sonhos
Segure-me, eu vou desvanecer

Porque tudo perambula na minha mão
E meus pés talvez não saibam mais a direção
Do ar, do mar
Do céu, do véu
Do sopro, do todo
Do que não há em qualquer lugar

Nesta vida em que poucos estão vivos
E muitos mortos ainda sobrevivem
Faça eu me sentir viva, única, segura
Então, me dê a sua mão
Então me dê a sua mão
Segure-me antes que eu fique assim, sem chão