domingo, 29 de março de 2009

Natureza Morta

No dia em que floresci
Fui arrancada do seu jardim
Como tantas outras que já vi
Só me resta fingir um sorriso
Aceitar que nada é tão simples assim

Longe da terra de onde nasci
Ainda bela e vermelha
Atraente e cheirosa
Fui vendida pra ver alguém feliz
Por alguém que compra paixões
Pra ganhar corações feridos
Em dias em que o vento é ruim

Agora estou aqui
Distante de tudo que vivi
Aprisionada num vazo vazio
Translúcido
Sinto tudo envelhecer
Sem ter pra onde ir
Sinto fome e sede
Nesse vazio irei diminuir

Já percebi que foi tudo ilusão
O que me deu morreu
No dia em que nada nasceu
Minha cor escureceu
O aroma desapareceu
De cabeça baixa
Sinto a natureza desfalecer

Tudo mucha até morrer
Sem terra nada sou
Natureza morta vende mais
Do que adubo de rancor
Já se foi a época de plantar tanto amor
Só se cultiva natureza morta
Cheias de promessa e caô
Sem alma de flor
Adormeço no lixo de um falso amor

Ontem uma flor
Hoje só a dor
E amanhã serei apenas
Natureza morta

quarta-feira, 25 de março de 2009

Vida interminável

Nem tudo que se foi está perdido
Basta olhar pra perceber que tudo ainda está ali
Continuamos caminhando
Em diferentes lugares
Escorregando
Desviando
E se reencontrando

Deve-se pensar pouco
E viver muito
A vida é apenas uma
Com pausas necessárias
E não adianta fugir
Sempre irei te encontrar
Mesmo que distante
A ligação é forte demais para negar

Há umas poucas pessoas
Algumas que nos salvam
Outras que nos perdem
Acima de mim ainda está escuro
A densidade faz chover
E enche os corações com novas emoções

O necessário virá
O essencial ficará
E o ócio desaparecerá

Há pessoas que demoram mais para serem digeridas
E muitas vezes não é totalmente absorvida
Mas todas são alimentos de uma vida interminável
Complicado é pensar na vida como uma fórmula
Onde existam teorias e explicações
Combinações e ingredientes são pouco
A vida é muito mais
Não é tratado
Nem contrato
Que dirá um prato
A vida é para ser sentida
Na intensidade que desejar
Há momentos de alegrias
Tristezas virão pra somar
O bom mesmo, é viver sem imaginar o que virá

Maximize-se
Se pensar tão pequeno
Será um grão de areia
Ao invés de uma praia inteira

Realize-se
Viva no imperfeito
E tudo se tornará mais que perfeito
A felicidade é para todos
Todos aqueles que sabem viver
Cada um do seu jeito
Perfeito ou imperfeito

Surpreenda-se
Sempre haverá entrada e saída
Portanto, crie portas de passagens
Seu espírito pede mais
Já é hora de acordar

Preencha-se
Não me sinto satisfeita
E nunca irei me sentir
Pois sempre irei querer mais e mais
Ainda não sei o que procuro
Apenas procuro
E sinto os dias de uma vida interminável

domingo, 22 de março de 2009

Só meu

Às vezes, me desconecto
Em questão de instantes
É como olhar e não enxergar
É como viajar no nada
Vejo as bocas se movimentarem
Mas não escuto nada
É como se eu não estivesse mais ali
Apesar de meu corpo está

Eu não vejo nada
Não escuto nada
Não toco em nada
Não sinto mais o cheiro
O que foi perdido
Afundou sem ser visto

Bem, e eu continuo aqui
Vivendo naquele nada
Não reclame
Eu já não suporto mais
Não me enche
Preciso esvaziar
Me deixe viver do meu jeito
Me sinto bem
Confortável no meu eu
Sabe, ali é meu momento
Somente eu existo
E nada tem mais sentido

Nem minhas pernas eu sinto mais
Minhas mãos já não te tocam mais
Estática, me assustei
Eu já não estava mais ali
Invisivelmente incrível
Num só momento
Deixei de existir
Por não pensar em nada
Adormeci no meu eu
No instante em que viajei
É cansaço de uma vida que não escolhi pra mim
E vivo os instantes perdidos
Já me conformei que não sou daqui
Só me resta viver em mim

Há quem diga que sou lerda
E perco meu tempo assim
Mas nada importa agora
Estou vivendo o meu eu
Um momento só meu

Oh, por que tudo é mais fácil quando estou assim
Sem ninguém pra dizer o que fazer
O que é certo ou errado pouco me importa
Oh, por favor não me desperte
Estou vivendo o meu eu
Um momento só meu

segunda-feira, 9 de março de 2009

Tomates

Tomates numa fruteira
Tão empilhados
Será que eles foram jogados ali
Ou foram arrumados

Abri uma lata
E fui tomando
Suco de tomate
Enquanto observava
Tantos tomates

Pé de plantação
Tomates vermelhos
Vermelhos tomates
São os mais procurados
Amarelos
Verdes
Ficam sempre empilhados
No aguardo de se tornar maduro
Será um vermelho tomate

Um
Dois
Três
Todos empilhados
Um a um
Jogados
Dois a dois
Amassados
Três a Três
Humilhado
Pouco importa
Se ainda estão todos no mesmo buraco

Nem me parece tomates
Estão como abóboras
Forma e cor
Nem amarelo
Nem verde
Arredondado
Meio achatado
Rechonchudo
Como abóboras
Um pouco duros
Não me parecem maduros

E ainda continuam nessa fruteira
Até quando ficará
Qual o tempo necessário
Onde será a morte dos tomates

Alguns espremem
Outros fatiam
Descascados
Macios
Vermelhos tomates
Do líquido a carne

Tomate é fruto
Fruto do tomateiro
Se torna maduro
Vermelho
Vistoso
Só presta se for maduro
Vermelho lustroso
Toma
Mate
O tomate
Quem mata o tomate
Vive de matar seu ar
Vermelhos tomates

domingo, 8 de março de 2009

Duas em uma

Outro alguém mora em mim
E se manifesta toda vez que vou dormir
Se alimenta das minhas fraquezas
Bebi água de pobreza
Fraco e sem luz
Ele vive de mim

Não sou eu aqui
Existe algo dentro de mim
Que se manifesta por aqui
Quando vejo o que fiz
Percebo que não sou eu

Estranho entender
Algumas vezes eu sou eu
Sem ser eu mesma
Nunca sou a mesma
Pois onde passo provoco mudanças
Somos nós
Eu e quem mora em mim
Tantos nomes já tive
Que já esqueci como me chamam aqui

Fugir de mim
Não é tão fácil assim
Uma necessidade toma conta de mim
Preciso ser diferente do comum
O comum é um
Com um nada
Sem nada de novo
É apenas comum
Diferente do incomum
O que vive em mim
Quer ser muito mais
Do que apenas o comum

Se eu parar por um segundo
Questionando o assunto
Fico assustada com o que vejo
Sair de mim assim
Algo tão desconhecido
É como renovar os votos
Nascer e morrer
Viver são momentos de prazer
Casamento sem sentido

Não sou eu aqui
Mas não me importo
Já me acostumei
O meu amigo infantil
Sempre esteve em mim
Desde o dia em que nasci

Nos dias de morte
Sou um nada
O comum de todos
O que está em mim
Só se manifesta
No dia em que nasci

E viver é ser eu mesma
E ao mesmo tempo
Ser o que está mim
Duas em uma
Sem precisar ser
Uma em duas

terça-feira, 3 de março de 2009

Ele pedi por mim

Não sou tão normal
Desde o dia em que me viu
Ele pedi por mim
Sempre vem para me perturbar
Quando estou adormecida
Me prende pelos pés
Como se pudessem me dominar
Sinto que ele pretende me criar
Só quer se comunicar
Sopra coisas que não entendo
Passa a mão por todo o meu corpo
O meu ombro pesa
É corpo estranho
Como um simples cortejo
Sulgo tudo pra dentro de mim

Já é impossível de me segurar
Não dá mais pra fugir
Subir é elevar em vida
Preciso me entregar
De alma e coração
Ele pede por mim
Que agonia conflitante

Sinto que um dia terei que ir
Ao encontro de quem me é de direito
Minha cabeça irá explodir
A música me faz vibrar
Meu peito coça sem parar
Na velocidade de uma canção
Acelera a dor de perdê-lo por um instante
O brilho ainda é minha ligação
Números de perseguição

O que ainda é meu
Vem toda noite perturbar
Transtorno bipolar
Quero ir e ficar
Súplicas de reclamação
Preciso voltar ao prometido pra mim
Fico tonta por não aguentar
Energia forte virá me buscar

Sou um segredo que derrete em palavras
Músculo vício
Meu contrato ainda está afogado
Nas profundezas das almas perdidas
Que dia iremos nos unir
O tempo se arrasta
E ele pedi por mim

Não sei se fiz certo
Mas hoje mudei o meu dia
Matei alguém com palavras
Gritos que distancia corações
Já não aguento mais
Ele sempre vem
Mesmo que meu medo o afaste de mim
Ele não me abandona
Pois faz parte de mim

Somente eu posso ver
Um dia cheguei a pensar que era louca
E o que via era um vislumbre
No nível que estou
É tão real do que imaginação
Viajar no irreal
Invisivelmente eu o vejo
Alma carente
Dependente de mim

Sinto o calor da presença
Formigamento nas extremidades
Um barulho de fuxico
Burburinhos em meus ouvidos
Venha pra mim
Aquele velho suplica renovação

Tudo que me vem são provações
Apuradas pela emoção
Sinto medo do desconhecido
De me sentir completa
Assim não terei mais sentido de seguir
A descoberta sempre é ruim
Sou auto-retrato improvável
Velho novo que renasce a cada dia

É difícil explicar
O que sou
Ainda não tem nome
O que vejo
Ainda é vislumbre
Apenas sinto
Que ele pedi por mim
Vigia meus passos
Me acompanha no olhar
Do puro ao inacabável
Ele me amedronta
Até me acordar

Não sei onde isso irá acabar
Na verdade não sei se isso tem fim
Nem sei de onde eu vim
Nessa confusão
O melhor é agir pela intuição
Se existir erro
Irei matar antes de agir

Esse texto não tem fim
E não para de vim coisas a minha cabeça
Irei explodir
E já sinto que ele me prende aqui
Não tem como fugir
O meu destino não tem fim
Ele pedi por mim
Essa agonia conflitante
Não sai de mim

Estação Vida Bandida

Ganhei uma enorme estação
Desde o dia em que te vi
Fui premiada com vagões
Já te aviso antes que me queira
De muitas viagens irei viver
Para o mundo inteiro me ver

O barulho do trem despertou
Meus olhos arderam ao ver
Que o dia nasce sem você
O sapato aperta
E faz o calo morrer
Na mão uma mala de correr
Cheia de segredos de enlouquecer

É dia de trem vivido
Perdida em trilhos
Vida bandida
Morada distraída
Vivo louca pra ser banida
Pois o seguro é estar perdida
Num trilho sem saída

Vida bandida
O meu ponto de partida
É no desencontro dos vagões da vida
Sai da minha estação
Eu bem que te avisei
Meu prometido não é promessa
E nunca será cumprida
Sem palavras a vida corre
Em trilhos sem saída

Vida bandida
Desejo que você me mate
Pois estou só de passagem
A próxima estação será creditada
E ficarei em dívida
De vagão em vagão
Vou surgindo na sua mão
Que me puxa pra cima

Vida Bandida
Desejo que você me esqueça
Pois irei dissipar nessa labareda
O clima é quente nessa região
E nunca perco tempo
Amanhã serei carvão de outro
Enquanto você ainda dorme nesse vagão

Vida bandida
Vivo somente de ida
Pois a volta não me é permitida
Na estação vida bandida
Deixo a todos
Um bilhete de despedida

segunda-feira, 2 de março de 2009

Aversão

Você deveria me conhecer melhor
Por tantos anos que caminhamos
A normalidade não é cotidiano para nós
Mas me trata como se eu fosse um nada
Nem percebe a minha presença
Mesmo com tudo tão claro
Teima em fazer uso da sua burrice
Que sai dessa sua mente
Mente que polui o ambiente

Esses são os efeitos
Efeitos negativos dessa sua falta de atenção
Passo tempo a me questionar
Como reagir a esse tipo de sentimento
Aversão
Sinto aversão das suas atitudes
Fazendo de mim mais uma de sua coleção

Sua crueldade me faz sofrer
Nessa árvore que plantou pra me distrair
Há sementes infrutíferas
Ainda estou debaixo desta árvore
Me alimentando da amarga fruta de ti
Envenenada por um desígnio infeliz

Me distraio acima de mim
Em um dos galhos há um zangão
É tão admirável vê-lo construir o ninho
Em oco de pau
O difícil é manter o ninho
Tão macio e quentinho
Faz frio lá fora
É tão admirável vê-lo reproduzir
Em tempos ruins
Das cinzas se produz mel

O zangão morreu
E ficou apenas um galho
Viúva de um único ferrão
É pura dominação
Tão cruel quanto a sua poluição
Só sinto aversão
Alguém matou o zangão
E despertou a solidão

Jogo do azar

Não espere que as pessoas sejam como você
Muitas vezes elas irão encher seus olhos
Decorrente da falta de caráter
Mesmo que aprenda com tapas
O necessário é não perder as cartas
Nesse jogo perde quem não sabe jogar
Jogador de meias palavras
Postura inválida
E habilidade voraz
Costuma jogar carta fora
E sempre irá faltar a jogada final

Ontem a noite foi longa
Bebi muitas taças
E joguei as cartas erradas
Por favor, não me acorde agora
É difícil perceber que errei
Apanhei a rodada inteira
E nosso acordo foi selado com paixão
Queijos e vinhos num clarão
Nosso beijo escondido numa escuridão
Irei me perder em teus lábios
Molhado de apostas de um jogo de azar

Um dia tudo irá rolar
As cartas voltarão pro monte
Saberei a hora certa de jogar
A carta vermelha sempre está
Pronta pra me conquistar

Um dia tudo terá o seu lugar
Amores que foram irão voltar
E continuar o jogo de onde foi parado
Ganhar ou perder no jogo
É só questão de sorte ou azar

Um dia tudo irá mudar
Novos amores irão me conquistar
E comigo irão morar
Nesse meu jogo de bilhar

Um dia tudo virá para me amar
Mesmo fazendo parte desse jogo de azar
Um dia irei aprender a jogar
Tudo o que é de azar
Pra ganhar toda vez que você pensar
E a sorte virá

É raro e caro o curinga está
Mas de fato o jogo só termina
Quando o outro nasce pra você ganhar
Enquanto o esperto dorme nesse jogo do azar