segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

FELICIDADE

Ficar feliz é sempre uma escolha. Já fiquei feliz tantas vezes, mas nunca assim. Porque o “assim” de ficar feliz é sempre uma escolha. Já fiquei mais feliz do que estou agora, mas nunca tão feliz. Porque o “tão” de ficar feliz, quando é felicidade mesmo, é sempre arrebatador e encantador e é uma escolha. É sempre com o peito virgem e encantado e infantil que ficamos felizes. É sempre com dois anos, descalço, sem roupa, sem nada, sem saber falar, segundos antes de sentir a falta da chupeta e da fralda.

A felicidade é uma criança que ri sozinha de si mesmo. Uma leveza do ser sem saber do motivo de sua existência. A felicidade é um pedaço de vida crescendo no ventre. A felicidade é um anjo que voa por alguns instantes ao encontro de outro e juntos tornam-se porção divina. A felicidade é conseguir caminhar de pés descalços e feridos sobre pedras que atiraram contra ti, quando só queria construir uma morada para se abrigar do temporal de salivas cuspidas em sua face, e mesmo com frio, ainda assim sorrir. E continuar feliz.

Não existe felicidade mais genuína do que se sentir feliz sem motivo. A felicidade não são frases prontas e perfeitas e melosas saindo de bocas prontas e perfeitas e melosas. Ser feliz é de uma simplicidade tão grande que por vezes não percebemos a tal felicidade. E toda vez que alguém tenta me convencer de que ninguém é feliz sempre, 
eu digo: EU ESCOLHO SER FELIZ ASSIM, NÃO "TÃO" FELIZ, MAS SEMPRE FELIZ.


TEXTO: Laila Guedes

PALAVRA-CHAVE: ARREPENDIMENTO

Toda vez que um fecha a porta o outro sofre por não conseguir entrar. É mais fácil desistir do que tentar. É mais confortável trancar todas as mágoas do passado numa caixa e abandoná-la no porão. Quem sabe assim um dia tudo caia no esquecimento. Porque resolver demanda trabalho e tempo. E as pessoas vivem apressadas, sem tempo, estão sempre correndo, mal olha, quase nem vê.

Trata-se de um caso mal resolvido, cuja palavra chave tem formato de arrependimento. Mas o sujeito fingi que não se abala e, a madrugada é longa, no percurso da sua mente a não realizada ainda corre os longos corredores dos seus mais íntimos desejos. O que volta e meia o faz se questionar se de fato tudo aquilo aconteceu ou se foi apenas um ensaio. Ela ainda se equilibra nas veredas do seu subconsciente, pisando forte com salto fino do tipo agulha, causando desconforto em seus pensamentos até o check-in, que já foi encerrado. No chão um papel amassado escrito: “volte em círculos até o início”. Mas nem todo mundo consegue encontrar o caminho de volta. Na verdade, não sabe fazer retornos, e a próxima esquina está bloqueada. Isso explica tanta gente perdida dentro da mente de outras pessoas sem encontrar a saída.

Se alguém anda mais depressa do que o de costume, corre o risco de tropeçar naquele seu argumento esfarrapado. Inacreditável como ainda existem pessoas que tentam te convencer de coisas tão óbvias. Porque quem nunca sofreu por amor, e carrega no peito um coração machucado, e o pior, não se convence de que um novo amor cura o outro, simplesmente não viveu. Não seria mais fácil dar um tiro na cabeça e matar logo de vez esses pensamentos do passado que não te deixa livre pra seguir? Deprimente é perceber que são suas próprias atitudes que te sufocam toda vez que você tenta dar um passo a frente. Você diz que quer resolver, mas não resolve. Daí covardemente se tranca dentro de si mesmo e joga a chave fora.
Você nem tentou, e já antecipa o veredito: “não ia dá certo mesmo”. Não, não ia. Como tem essa certeza? Só porque existe um aviso enorme pendurado na porta do coração que diz “acesso proibido”. Não! Tem alguém querendo entrar agora. E não mandou aviso prévio nem minuta, apenas um barulho enorme. Consegue escutar? Não, não, o seu medo não deixa ninguém entrar.

O problema é que existem certos tipos de pessoas que guarda dentro de si uma voz que grita “eu preciso viver pra ter certeza”. Não sabe aprender com os erros dos outros, ou talvez, não queira. Há quem aprenda sem errar. Mas não há quem ame sem antes se apaixonar. Não deixe de expressar o que realmente sente. Não tenha medo de errar, nem de se arrepender. Resolva, e viva o que tem que ser vivido mesmo que tudo pareça meio confuso no início. A vida é feita para se viver, é pagar pra ver. Não feche os olhos, pois um grande amor quase sempre está na sua cegueira racional de não querer ver, pra não correr o risco de se arrepender. Quer saber, arrependimento é só uma desculpa que a gente cria pra justificar a nossa mudança de comportamento.

**Crônica pra o site www.ativarsentidos.com.br
*** Agradecimento especial a Valentina Contreras, que gentilmente cedeu as imagens de seus trabalhos.

QUE LOUCURA É ESSA?

O que sinto é imenso demais pra se sentir sozinha. Não cabe em um único peito apaixonado. Quando um peito encosta no outro, os nossos corações passam a bater no mesmo ritmo, e nesse pulsar me sinto plena, completa, serena. Mas o meu peito dói quando caminho só. Aperta, e a pressão aumenta. Sinto as batidas descompassadas socando o meu peito numa busca descontrolada pelo seu. Já fui barco navegando no seu mar. Eu naufraguei, e juntos viramos oceano.

Mas, ele quer doses homeopáticas desta água. Uma dose as terças e quintas. E quando a carência aperta o peito, aumenta-se a dose e o uso passa a ser diário. Mas ele tem overdose, e escolhe passar os finais de semana sem a droga do que ele também sente, rejeita, não aceita e não quer, ao mesmo tempo que também quer, aceita, não rejeita.
É aí onde mora o perigo. Sabe, quando você não sabe de onde vem aquela sensação estranha? Quando você tenta explicar, mas não consegue? Quando já pensou tanto que fez os seus pensamentos complicarem ainda mais. Quando você já pensou em largar, mas não consegue. E aí, dou uma de louca e pergunto a mim mesma aonde vou me esconder? Pra onde vou correr? E o meu peito aperta outra vez. É dor física que não para de doer.
Enquanto que para todas as outras coisas você sempre tem uma explicação que além de convencer à todos, convence a si próprio de que há teoria e entendimento para tudo. Mas o que sinto agora vai além do que a minha mente possa compreender. Eu nem imaginava que seria assim. O que sinto só cresce a cada dia e quando eu penso que já cresceu o suficiente, ele ainda cresce mais e mais. Eu já nem sei mais onde vai parar. O que sei é que não para de crescer. E dói, e dói, rompendo o meu peito como se fosse sair para te mostrar o tamanho da imensidão que mora há tempos aqui dentro de mim.
Ele não sabe, na verdade, mas fantasio todo esse amor por ser de fato muito egoísmo sentir tudo isso sozinha. Eu quero viver e sentir o meu peito encaixado no seu. Daí, entre um peito e outro, eu me pergunto:“que loucura é essa?”
Ei, você aí? Faça meu coração acelerar só por um instante. Mas me faça acelerar por inteira. Com uma batida boa, uma batida que faça barulho na minha alma. E mesmo que eu fique surda, ainda assim tudo isso irá mexer comigo… Eu gosto de dançar uma música leve em ritmo acelerado. Não pare, me embale. Então chore dentro de mim pra que no meu peito possa sossegar. É possível que eu toque seu lábio agora. A chama ainda está acesa e eu sinto queimar aqui dentro. Por favor, cante pra mim até o meu coração parar de tocar! Eu até poderia ficar mais um dia sem enlouquecer, mas por quê?


***Crônica par o site www.ativersentidos.com.br

A VIDA NÃO ERRA, QUEM ERRA SOMOS NÓS

Soube que o meu tipo de distração é o mais difícil de curar: quando percebo que passou, já passou, não costumo correr atrás – o problema é insistir no pior de todos os erros, brigar comigo mesma.

Finalmente me dei conta de quanto eu já errei e ainda terei que errar seguidas e seguidas vezes. Mas eu não tenho receio em errar. Eu tenho receio de estar sempre certa e de não ter mais nada para que eu possa errar. Tenho receio porque a teimosia me fez acertar no alvo, mas ele é falso. O alvo na verdade era uma ilusão que me obrigou a enxergar de perto a realidade, e eu sou muito grata a vida pela oportunidade em dizer que aquele alvo não vale a pena e nem é real. Tenho receio na distância entre duas pessoas mesmo estando lado a lado. São mais angustiantes as lágrimas de quem nunca errou por amor.

Se eu pudesse falar bem alto, eu gritaria: “vida, me dá mais uma chance para que eu possa errar”. Sim, eu estou errando neste momento, com ignorância e sem razão, mas foi por amor. Reconheço, errei, perdão. Tudo é uma questão de olhar e reconhecer que o amor por vezes nos faz errar um erro bom. E confesso que eu não seria a mesma, caso não tivesse errado por nós. Sim, eu não me arrependo de errar.

Sabe o que é, estou errando há dias, de camarote, com vista mar. Só que ainda não percebi que estou errando, por isso insisto. A vida sabe de algo que não sabemos. E ri de nós como quem diz: “você irá errar”. Mesmo assim a vida me concedeu o direito de sentar ao seu lado para ter certeza da minha incerteza.Então, eu tropeço novamente e a vida me dá dois tapas na cara e diz: “até que enfim, você aprendeu”.

Ali nas cascatas da vida quem erra se banha na água profunda da sua própria dor. E lá depois do penhasco há um vento bom que areja e acalma o coração. A vida tem razão. Somente agora os teus sonhos semeará em terras reais. Lá, o começo é um ponto final que nunca chega ao fim.
Viver é fazer do erro uma cama para se deitar no horizonte ou no chão. Não culpe a vida nem a si mesmo pelos erros que cometeu. A porta que um dia se fecha é também a mesma que se abre. Não estranhe caso a vida te deixe esperando por ela. Tenha paciência e espere, mesmo sem compreender o que o tempo insiste em nos dizer com intensidade de uma incerteza desconhecida. E [...]
***Crônica para o site www.ativarsentidos.com.br

NO DIA QUE A MENTIRA NASCEU

No dia que a mentira nasceu eu cismei que era verdade e esqueci de me proteger. Meus ouvidos quase sempre são um canal no horizonte toda vez que alguém profere palavras muito bem colocadas. E nesta hora eu sempre tossia um pouco franzindo a testa e arqueando as sobrancelhas, torcendo para que tudo aquilo fosse verdade. Fiquei na dúvida se era verdade ou mentira, então eu fingi um belo sorriso por que o dia amanheceu tão lindo. Que nome tem alguém que tem todos os motivos para dizer verdades, mas insiste em experimentar o delicioso prazer de dizer mentiras?

No dia que a mentira nasceu, fui fazer exame de endoscopia. Enquanto o médico não vinha, as enfermeiras faziam os preparativos para a realização do procedimento. Quando a anestesia adentrou em minhas veias as últimas palavras que consegui escutar, minutos antes de fechar os olhos, foi a enfermeira dizendo que o réveillon é a festa da falsidade, onde pessoas que passaram o ano inteiro sem nem ao menos querer saber notícias suas, te ligam e desejam todas aquelas palavras ensaiadas como quem escuta a fita rebobinando e tocando outra vez. Foi mais forte do que eu, adormeci.
Acordei com o resultado do exame. Ainda sonolenta descobri que estou com esofagite – o tubo que liga a parte posterior da boca ao estômago encontra-se inflamada. Não adquiri falando mentira direta de quem esconde algo ou precisa fugir até mesmo de si próprio. Tudo indica que foi proveniente de sucessoras crises de refluxo. Mas o problema não é o que entra pela boca, e sim o que sai dela. É que escutar mentiras me causa enjoos, e a depender da quantidade, me faz regurgitar.
Foram duas golfadas. A primeira foi tão brusca que escorreu pelas vias nasais, com alguns pedaços do jantar de ontem a noite. A segunda foi mais lenta e rala, mas queimou de uma forma tão intensa que me fez perder a voz. A boca de seca ficou molhada com o gosto de vômito aguado. A mentira me abraçou, apertou a minha boca como era de costume e não me deixou dizer uma só palavra.
Sabes lá quando foi, se no nascer ou por do sol, ou lua cheia em noite escura. Da boca de quem diz nasce o que é não ser, fingir ter, e não ter e nem si quer ser para se doar. É não saber falar, não se entregar. Sem saber que o outro sabe ou acredita saber. Enganar, fingir ser, ou ter. Mentir aprisiona a alma. Corrói por dentro e desanima o coração. Viver nessa vidinha de mentiras, falsidade, medos, só atrai energias ruins. É doença de alma que desce ladeira abaixo.

Contudo, mentir é uma arte tamanha que por muitas vezes nos deixa cabisbaixo e sem saber o que dizer.Pois quem sabe a arte de mentir, acredita até mesmo na própria mentira dita. Finge sentir o que não se sente, mente tão bem que parece até verdade no ouvido de quem consegue ser sincera até consigo mesma.
Eu fui feita para a verdade, mesmo que tenha que ferir-me por tantas vezes escutar tamanha sinceridade. Pois só de sentir a mentira alheia já me desfaleço, a garganta queima novamente. Mantenho-me sempre viva, acordada, alerta e verdadeira. Ativar os sentidos da alma, faz o universo convidar a ter emoções leves.
No dia que a mentira nasceu, eu fiquei sem palavras.
***Crônica para o site www.ativarsentidos.com.br

NÃO SEI (WISH YOU WERE HERE)

A pior parte do dia é ter que ir sem saber quando irei voltar. É que, eu queria ficar um pouco mais. Pra falar a verdade, queria apenas ficar. Porque é tão difícil dizer adeus a você?

E eu que em inúmeras vezes não disse nada, nem um até logo, a gente se vê, ou um simples tchau. Desde a última vez em que nos vimos, a garganta meio que travou, e me faltou o ar, as palavras. Eu não sei por onde andas, eu “não sei”, até queria ter dito alguma coisa, mas não consegui. Isso tudo acontece involuntariamente, e muitas vezes ganho fama de indecisa por não dizer nada (enquanto o normal seria dizer algo). E você não sabe, mas, assim que entrei no carro e fui embora, a tristeza se transformou em algo que ultrapassa a própria tristeza.

“Não sei” se você lembra bem daquela terça-feira, era quase madrugada, e a gente não dormia. Era quase um grito de dor, e a gente não sentia. Era quase um ato de confessar o que aquele romance queria de nós, ou talvez o que gostaria que fôssemos. O que ele insistia em nos fazer sentir, e nos tocar verdadeiramente, sem muita pressa de ser visceral. Tinha inocência, era indefeso aquele romance, muitas vezes frágil. De pontuadas emoções fortes, lentas, intensas, e pura. No verso de uma canção que implora incansavelmente por nós. O romance sentiu na pele as dores que os nossos corações não sentiram.

Queria que você estivesse aqui – e te contar que fui eu que te liguei aquelas vezes sem dizer nada só pra escutar a sua voz. E que apaguei tudo que estava escrevendo, e escrevi novamente repetidas vezes. É que eu me sinto infantil demais em confessar certas coisas. Já passei a mão no cabelo a cada cinco segundos, pegando um pedaço e enrolando nos dedos até o final. É que eu não sei bem o que fazer quando estou com você. Onde colocar as mãos, o que dizer, se digo, se não digo. Por isso, acabo não dizendo nada. Você desperta a minha covardia, que sempre espera por você. E ela grita: faz alguma coisa, por que eu “não sei” o que fazer nos dias que eu penso em você. Chego a pegar o telefone para te ligar, mas não ligo esperando que você faça antes de mim.

Eu sei que muita coisa mudou, mesmo que você não perceba, ou perceba. Aliás, eu “não sei” se você carrega esse “não sei” consigo também. Essa incerteza que massacra e faz lacrimejar sem nem chorar. É justamente esse “não sei”, uma simples expressão com duas palavras que me dá uma tremenda coceira por dentro. “Não sei” se você pensa em mim, “não sei” se ainda me quer, “não sei” se ainda causa alvoroço, “não sei” a impressão que ficou. “Não sei” se seremos, não sei, não sei. Esse “não sei” é o que aperta e me apunhala lentamente todos os dias… Não sei, não sei… “Não sei” é um paraíso do inferno, é a possibilidade impossível, é a combinação da certeza com a incerteza, é o quase que não sustenta quase nada, quando se quer tudo… “Não sei” é vago e amplo. É dor aliviada, e “não sei” tantas vezes também é “sim, eu sei” disfarçadamente. É que esse “não sei” me fez prometer coisas que não se pode cumprir sozinho. E isso me incomoda. É mais fácil dizer “não sei” quando se tem dúvida, ou mais prudente, ou mais comum, ou mais normal? Não, não é! O coitado do “não sei” só sabe que é dúvida e todo o resto ele só tenta saber, mas fica louco e desiste. O “não sei” é de uma simplicidade que o torna ainda mais cheio de dúvidas.

Nove minutos é o tempo que demoro pra escovar os dentes. Como eu queria que você estivesse aqui, pra te ver ri de mim com a boca cheia de espuma branca que a pasta faz quando a gente escova e escova, e depois cospe e joga fora. Pra te dizer que o melhor momento do dia é quando você cola o rosto na minha barriga, e me deixa imóvel. Pra revelar que eu não sou muito de tomar café com leite, mas com você eu gosto. É que falo “iogute”, assim mesmo sem o “r”, que nem criança, por isso eu nunca peço. Tão boba eu, tão boba. Você nem sabe dessas coisas.

Nove minutos é o meu recorde sem pensar em você, eu “não sei”, não tenho tanta certeza, acho que sim. E que importância tem se são minutos ou segundos, é sempre pela primeira vez. A quarta faixa do nono álbum da banda britânica de rock canta tudo o que eu não cantei. E daí que eu “não sei”, é sempre pela primeira vez, quando a música toca. E você me olha no exato momento em que o Pink Floyd se faz marcante ao protestar Wish You Were Here. Imagino como seria diferente se a nossa música fosse conjugada no presente, mas, “não sei”.
***Crônica para o site www.ativarsentidos.com.br

FODA-SE A SUA SUPERFICIALIDADE VAZIA!

Faça-me gozar, por favor! Pessoas que acham que isso é tudo me deprimem. Porque é pouco e porque se parece com algo que qualquer um poderia ter. Comum, comum, muito comum. E eu sempre gostei do diferente.O que vem sendo oferecido por aí é sempre o ato em si, às vezes com o vazio, muitas vezes com baixaria e fantasia, poucas vezes com carinho, raras vezes com amor. Tudo sempre igual, o ato de prazer e nada mais. E o pior ainda é o ato falho – uma foda tão normal que quando se ejacula não tem a sensação de ter gozado. De que adianta chegar ao quarto ou quinto clímax sem sentir que foi algo diferente.

Homens adoram mulheres de unhas grandes, que gemem alto enquanto estão gozando em seu pau. Como se fosse um ato de coroar seu macho que espera no altar, sentado em uma ostensiva cadeira de rei. O problema é que eu quase sempre espero algo mais profundo, como uma verdadeira rainha.

Algumas pessoas têm teorias que considero idiotas, como a que sempre se goza liberando sêmen ou ejaculando. Eu custo a aceitar algo tão fugaz. As pessoas seriam mais felizes se fossem menos preocupadas e amassem mais. É sempre nojento alguém que quer gozar sempre daquele jeito burocraticamente físico. É apenas prazer e nada mais. Foda-se o seu sentimento. Foda-se a simplicidade. Foda-se a sua sensibilidade. Foda-se o romantismo. Foda-se o encontro de almas. Foda-se o papai e mamãe, e a titia e o titio, foda-se todo mundo, porque agora ele quer apenas te usar para fuder e fuder mais. Pronto, foda-se! A fêmea gemeu e o macho ficou satisfeito. Então comece a chorar. Senão, ele irá fazer uma expressão de tristeza, como sinal da sua insatisfação por não sentir as lágrimas molharem o seu ego masculino. Mas se for para chorar, chore com vontade, com prazer, com verdade. Não chore só pelo ato vazio. Chore por tudo o mais.

O dia em que coloquei uma unha postiça e gemi bem alto. Aparentemente foi delicioso, mas não significou muito para mim. Mais do que o ato sexual, é sentir-se prazerosamente satisfeito com o seu companheiro.Goze da vida a dois. Seja diferente. Faça diferente. Eleve o espírito para elevar os sentidos. Goze com a alma. Trepe com o coração. Esqueça o ato pensável e mergulhe na profundeza da alma do seu verdadeiro valor.

Quando eu fui rainha, eu ri, e foi um riso de amor, um riso que só quem já foi coroada sabe. As relações puramente sexuais que me perdoem, mas sentir-se amada é melhor do que uma boa trepada.

Foda-se a sua superficialidade vazia. Erótico é o amor!


**Texto para o site www.ativarsentidos.com.br

ACORDA, CINDERELA!


Eu poderia iniciar meu conto com o clássico “era uma vez”, como tantos outros o fizeram antes de mim, mas tem certos tipos de personagens que me causam náuseas. Ela acreditava em príncipes e, porque acreditava, ele surgiu. Ele gosta de mulher magra e bem vestida. E por isso, ela se maquiava demais. A vida que ele escolheu não aceita algo que não seja no mínimo paletó, gravata e um rosto sem barba e bigode. Ela é bondosa, porém ambiciosa. A conta bancária de ambos difere pela quantidade de dígitos. Ela tem caráter e boas condutas. Ele só tem dinheiro.

Não me lembro ao certo se começou aos poucos ou se foi de repente. Só lembro que ela se encantou. E foi piorando. Ele tentava sem muito sucesso disfarçar a sua insegurança atrás da sua superficialidade. Apesar de forte, bonito e encantador, escondia sim uma face arrogante e preconceituosa, que por vezes se mostrava nas brechas da frouxidão de uma máscara que te traia. E que, com toda a certeza ele também havia comprado. A vida seguia no impasse escorregadio e sombrio, mas dançava ele e ela, no salão enorme de chão reluzente, e quem mais entrasse na valsa, virando, dançando, a falsa dança dos bobos. Ela vivia num mundo que não era dela. Aceitava o inaceitável, mas não descia do salto. Enquanto ela se rasgava em lágrimas que não escorriam na sua face, mas que sentia molhar antes mesmo que a gota caísse do céu sobre ela. Preferiu esconder, por qual motivo eu não sei. Enquanto ele se lambuzava da sua bondade inocente. A dama da noite era embalada por uma magia de tal forma que de longe parecia até verdade. A falsidade contamina. Lá dentro dela, algo lutava constantemente para que essa doença não impregnasse a sua alma. A porta estava aberta, mas ele escolheu pular a janela, e lançar as correntes sobre ela. Era um odor interminável, mas ela não sentia o suor ardido da alma dele, que chorava implorando por maldade. Por vezes, o sorriso dela desinfetava. Mas tudo era passageiro.


Ao final da ceia, ela já não aguentava mais, e em prantos implorou para que a deixasse partir, e ao vê-la definhando, só foi capaz de acarinhar o seu próprio ego. Bateu no peito, estufou e disse: “você é a mulher dos meus sonhos, a minha princesa”. Aquele peito liso coberto de seda fina fedia pior que fossa aberta, o coração estava ardido e imprensado de tal forma que não conseguia amar.

Amanheceu, e ela não conseguia levantar para ver o sol nascer depois daquela noite, sentia-se sugada por um ciclo vicioso psicótico de más condutas, conceitos pré concebidos de uma mente inteligente, porém malcriada. Ela estava murcha, aprisionada quase morta deitada no caixão esperando que alguém fechasse a porta. Já que o seu sapato ele já havia encontrado. O falso brilho era de uma intensidade tão forte que ela não tinha coragem de fechar a porta, não naquele momento. Ela não tinha se quer forças para esticar o braço ao alcance da maçaneta, que dirá esconder o pé descalço. O dia se arrastava fadigando as dores do casal. Naquele mundo existe regras surreais conduzidas por um maníaco possuído pela loucura de uma paixão doentia.

Ela dormia numa falsa paz encoberta pela esperança em noites frias, na fantasia de encontrar o sapato que encaixe perfeito no seu pé descalço. Os dedos ao relento sofriam com a frieza do tempo vergonhoso de suas escolhas. O que um dia te pareceu certo, tornou-se errado a meia noite. Acorda, Cinderela – o encanto passou. O sapato que escorregou do pé naquela noite já não encaixa mais. Paixões loucas desvairadas duram o tempo de uma noite de encanto, onde a partida de um jogo de sedução termina a meia noite. A realidade chega quando a magia arruma as malas e decide partir. Se restar apenas aparências, a tendência é o chão rachar e abrir um buraco que te leva ao vazio terrível. Ninguém vive de Cinderela o resto da vida. O mundo não é um conto de fadas, apesar de muitos casais viverem maquiados. Não se encante com o brilho das falsas bijuterias usadas por pessoas cínicas, pois quase sempre é tenebroso e o rímel escorre manchando todo o rosto. Muitos casais vivem de relações que é de uma pobreza tão podre que chego a sentir o cheiro da hipocrisia de longe. Desculpe a minha humilde face lavada e a minha sinceridade pontuda que por vezes possa te trazer questionamentos dentro de si, mas eu não posso me abster em dizer – Eu não sei amar algo que não seja o amor.


**Crônica para o site www.ativarsentidos.com.br

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

EU DESTETO


Eu detesto quando eu digo uma coisa, e ele entende outra. Tira-me do sério com tanta facilidade. Faz cara de desentendido, mas não deixa passar nada. Ele é ardor e alívio, intenso e suave, homem e menino, tudo ao mesmo tempo. Mas ele é apenas um amigo.

Eu detesto ter um e sessenta e sete e, ele um e noventa e dois, quase cem quilos e, eu quase metade disso. Ele me joga nas alturas e me faz sentir tão pequena. Me carrega e me põe nos ombros. Eu detesto quando ele me chama de linda, sabendo que ele chama todas assim, apesar de meu “linda” ter uma entonação mais longa no “iiiin”. E quando ele inicia todas as frases com menina, quando o meu desejo é ser a sua… Eu detesto ter que ser a primeira a falar quando já estamos a mais de uma semana sem trocar uma palavra.

Detesto sonhar e noutro dia acordar sem lembrar de nada, e ter que me contentar apenas com a sensação de que o sonho foi com ele. Eu detesto porque a gente é preto e branco, mas deveria ser colorido. Eu detesto aquela camisa branca lisa encobrindo a pele morena que deixa ele mais sexy. Assim como o seu cabelo que já tem seis semanas que não corta, fica grande e os meus dedos se perdem no vai e vem de um cafuné como um ímã.

Eu detesto quando paro o meu carro em frente a casa dele, espero uns quinze minutos e, na hora em que abro a porta do carro, sinto aquele cheiro. Isso me desconcerta de um jeito, que eu detesto. Eu sempre ganho um beijo macio no rosto. Eu detesto quando estou com ele, a sós, e ele senta no sofá, não diz nada, eu não aguento, caminho em sua direção, sinto vontade de pular em cima dele e me encaixar implorando por algo mais. Eu detesto quando ele se estica enquanto recebe meus carinhos, quando mira aqueles olhos claros adentrando os meus que são quase pretos de tão escuros, e quando ele chora fica verde da cor do mar, parece me acompanhar. Eu sei que ele também detesta, mas eu detesto mais.

E confesso que cinco minutos depois de ter trocado as últimas palavras com ele, eu já sinto saudade. Eu detesto sentir que o cheiro dele ainda está em mim, que sinto algo e, estou tentando fingir que não sinto, mas não consigo. É difícil ter que admitir que entre um parágrafo e outro, não parei de pensar nele, tentando imaginar o que ele está fazendo sem mim.

Tem coisas que eu prefiro dizer que detesto por vergonha de gostar demais ou por medo de me magoar ou por não saber bem o que é. De repente, sei que vou morrer de vergonha depois que acabar de escrever, pelo grande risco dele ser você que está lendo - Eu detesto você, e tudo o que você faz.


**Crônica para o site www.ativarsentidos.com.br