quinta-feira, 19 de março de 2015

EU DIGO SIM


Já me imaginei casando com você. Lá na sagrada colina, na mansão da misericórdia. Mas só sinto vontade de casar na Igreja do Senhor do Bonfim se for com você. Já imaginei você fardado e eu num vestido longo branco. Em minhas mãos um bouquet de lírios brancos e um terço de cristal transparente. Caminho da porta de entrada até o altar, onde você está. Durante a caminhada todos me olham, mas não consigo enxergar ninguém, além de você. Consigo escutar a música, e ao ritmo dela vou seguindo passo a passo até você. Olho nos seus olhos, e me vejo. Você beija a minha testa e enlaça seus dedos nos meus. Ergue a minha mão sob a sua, e me ajuda a subir mais um degrau. Onde me põe exatamente em frente a imagem de Jesus Cristo na Cruz. Juntos ajoelhamos perante ao filho de Deus. No silêncio da inquietude nossas almas brincam desprovidamente de se unir. Aos teus pés, celebramos o nosso ritual de amor. E recitamos nossa promessa. Você me pergunta e, eu digo Sim. Eu te pergunto e, você diz Sim. O elo toca os nossos dedos. Ao mesmo tempo que uma lágrima escorre e toca os meus lábios. Você também me toca os lábios, com um beijo eterno. Deus abençoa!

Casar não é a certeza de que tudo será como queremos, mas a convicção em saber que, possuímos o dom de amar um ao outro, mesmo quando chove e o vento sopra forte, o sol nasce e se põe, e a noite vem, posso imaginar, suspirar, e ter a certeza que nada acontece por acaso, que o amor existe até no meio das piores desgraças, que, se eu aceitar, posso dizer sim a tudo que me faz feliz. Na simplicidade do meu viver, você despertar em mim a plenitude e, eu digo Sim.



Texto: Lai Guedes

SECRETO


Uma das relações mais complicadas que vejo é a de você com você mesmo. A verdade é que a gente nunca saber o que se passava pela mente e coração do outro. Mesmo assim ainda existe aquele que nos julga. Imagina que, vinheram me falar o que eu sinto. Mas os meus sentimentos não são meus? Como pode alguém ter a ousadia e deselegância de afirmar o que acontece somente dentro de mim. Tem alguém aí, ou muita gente por aí, que precisa entender que conceituar o que sentimos é único, pessoal e intransferível. E vamos concordar que ser humano é um "bicho estranho". Por orgulho ele nega, finge ser o que não é. Sentir o que não sente. Disfarça até mesmo sentimento. Por defesa ou fuga ou medo, a gente se anula. Por ego ou vaidade a gente se destrói. Até por uma bobagem qualquer. Afinal, somos tão infantis, às vezes. Você ou Eu. Ou Eu e Você. A verdade é que este duelo é apenas entre nós. Aqui dentro quem sabe o que se passa sou Eu. Aí dentro de você quem sabe o que aperta e dói é Você. Apenas você. É preciso consciência de que a gente nunca sabe o que o outro sente. Muitas vezes, nem a gente sabe o que a gente sente. Como pode alguém julgar o sentimento alheio por análise a atitudes diversas. 

Somos tão responsáveis por tudo que acontece por nós. Entenda que, é você que permite ser machucado. É você que permite sentir dor, fraqueza, desanimo. Você tem tudo que precisa pra solucionar todas as dúvidas e incertezas que o cerca. Acredite, está tudo aí dentro de você. Você nasceu completo, mas teima em buscar algo que falta. Mas não falta nada. O seu mistério está guardado dentro de você, e é uma mistura de tudo que viveu em loucura, equilíbrio, harmonia, paz, dentre outras plenitudes. Algo do tipo Secreto...

Você se ver de frente com você mesmo, deseja um abraço firme e intenso e, a partir desse momento, começa a sentir os seus dedos, mãos e braços te enlaçarem. Não sei dizer ao certo o que irá sentir. Por ser, de fato, algo sem explicação. Um sentimento puro, único e apenas SEU. E de mais ninguém. Ao menos que queria me dar.

Importante, e muitas vezes necessário, esse momento entre Você e Você mesmo.



TEXTO E FOGRAFIA: Lai Guedes

sexta-feira, 13 de março de 2015

TESTEMUNHA SILENCIOSA: Limpeza, Pureza e Amor!


Tentei abrir seus olhos, você tentou vendar os meus e agora ficamos os dois presos, em silêncio. Não sei se em vez de separar, você gostaria de estar mais próximo. Sou sua testemunha silenciosa. Não observo apenas seus detalhes, todo esse tempo choro em lágrimas a sua completa desordem interior. Altos, baixos. Altos, baixos. Tentei organizar essa bagunça que vem refletir no que tenta esconder, mas todo mundo vê. Peço apenas um lugar na platéia do seu mundo, onde eu possa contemplar o oculto da sua alma. Não há palavras, são apenas sinais. Não escuto vozes, nem gritos. Caso me permita levantar, irei caminhar dentro de ti. O que vive é mais do que parece ser. É muito mais do que palavras. Muito além do que se consiga imaginar. Você é único, apesar de insistentemente refletir e expressar muitas vezes o que não é. Algumas escolhas da vida nos põe vendas nos olhos, que nos impedem de descobrir o que é real. A vista segue cansada, e você se perde tentando se encontrar. Não sei se ao invés de enlouquecer, você é a própria loucura. O reflexo só não basta. Tudo passa. Mas lá no fundo ainda te resta a necessidade de controlar outras pessoas. Você não está sendo você. Alguns momentos conseguir ver quem realmente é, ao passo que em outras ocasiões você se separa do seus verdadeiros sentimentos. Se você for como tantos outros, não. Se demonstrar ser forte sem ser, não. Pare de esconder quem realmente é. Negar ou escolher saídas que parecem confortáveis não irá resolver nada. Sabe, este mundo no qual está tentando se adaptar, nem é seu. Tudo que é verdadeiro vem de dentro. Não criamos com base em outros seres, arquétipo. Já somos desde o princípio e o fim. Não deixe a vida se acomodar onde ela quer estar. Comece a romper o hábito. No seu ritmo, dia após dia, retirando alguns vícios. Renuncie. Cuide-se. Tente expressar de dentro pra fora "Eu sou" pura essência suprema centelha divina - "Eu sou Amor"... Limpeza, Pureza e Amor!

E olhar só pra dentro impossibilita de descobrir os mistérios de outro ser, que almeja fazer parte da sua imensidão. O sonho parece mais real do que quando estamos acordados. O amor pode estar trancado. Liberte-se... E se possível me dê um pouco mais do seu amor. Estenda a sua mão e permita-me tocar entre seus dedos.


Texto e Fotografia: Lai Guedes

segunda-feira, 2 de março de 2015

ELA


O tempo foi passando, e ela se perdeu. Não sabe pra onde vai, e nem de onde veio. De vez em quando solta faíscas luminosas do seu verdadeiro eu, como criança ao brincar livremente. Mas confusões perturbam a sua mente e coração – não se sabe onde se perdeu, ou em qual momento se encontrou na busca incessante dela mesma. Até que, numa fração de momento, ela olha para dentro de si. Tenta escutar a sua voz, silenciosamente murmurando em seus ouvidos, e nada. Procurou, gritou por si mesma. Nada. Colocou a mão sobre a nunca fria, abaixou a cabeça e chorou. Fechou os olhos molhados de lágrimas e ouviu o barulho do seu silêncio soprando sob as cores cintilantes do seu pensamento. E desmaiou, exausta. Quando despertou, já era dia. Tudo parecia meio diferente. As sensações ainda mais intensas sufocando o seu peito a se perguntar - Quem sou eu, e pra onde devo ir? Ela ainda se questionava demais sobre si mesmo. Colocou a mão no peito e sentiu seu coração batendo descompassadamente. Seu eu mudo não tinha como responder. De certo que você não é você. É outra que criou pra se adaptar a nova realidade. E ela não sabe o que fazer perdida nas suas escolhas. Ela só quer se reencontrar. Mas precisa fazer parte de si mesma. Mergulhar na sua grande imensidão. Sentir a força que vem de dentro do seu coração. Respire e sinta, abra o seu coração e escute os sinais relampejando no céu. Caminhe sobre os seus próprios passos, seguindo a luz da escuridão. Preste um pouco de atenção. Você ainda está aí? Então, acorde!



Texto: Lai Guedes

PENSANDO ALTO



Estou bem diferente do que sou
Quase nem me reconheço 
Eles querem que eu seja outra
Bem diferente do que sou

Eu não fico feliz quando tento fingir
Pensando alto, bem alto
Me questiono tanto sobre as coisas que faço estão certas
Eu quero a liberdade de me sentir livre
Apenas eu, por um instante, somente eu

Mas, tenho tanto amor aqui dentro
E eu estou pensando alto
Por que no mundo poucas pessoas sabem amar?
Tudo que eu mais quero é dar esse amor
Porque eu sei que esse é o sentido da vida

E não vou parar até encontrar
Um colo onde eu possa deitar
E serei apenas eu, você e o amor
Pensando alto, bem alto



Texto: Laila Guedes

MEIA HORA

MEIA HORA

Ele me olha. Quer alguma coisa? Massagem nas costas. Meia hora. São 21h30. Às 22h termino. Começo.

Ele deita ligeiro na cama, de bruços. Levanta, arranca a blusa. Deita de novo, de bruços. Eu começo estralando. Deslizo as mãos apertando sua pele com minhas impressões digitais por todo o seu corpo, principalmente no entorno das costas largas. Nos ombros, trapézio. Ele pedi - Faz com a ponta do cotovelo.

Imagino eu que uma boa massagem nas costas tem que ter dedos fortes. Na ausência deles, ponta do cotovelo resolve. Uma boa massagem nas costas ultrapassa o cóccix e explora glúteos; avança sobre a nuca e alcança orelhas. Aperto o trapézio novamente deslizando até o ombro. Uma boa massagem nas costas envolve alguns segundos de carinho. Uma boa massagem nas costas inspira. E eu viajo no contorno dos seus músculos rígidos.

Não sei o que passa dentro da minha cabeça, são milhões de pensamentos. Sou a sua massagista agora, amanhã eu não sei. Você, esparramado na cama, relaxado esperando o toque dos meus dedos. O que você pensa eu não sei. O que sei é que quando você deita de bruços, me inspira, eu pressiono cada inserção dos seus músculos como se fossem poemas. Se deixar, me empolgo, aperto tão forte, você geme. Eu me apaixono. 

Esse carinho vicia. Fico passando pelo mesmo caminho toda hora, isso vicia. Uma boa massagem escolhe maneiras diferentes de percorrer todo o corpo. Sua pele morena me inspira, um bom carinho é criativo. A ponta do cotovelo em suspenso por alguns segundos. A ponta do cotovelo retoma o percurso em um local mais adiante ou mais atrás, nunca no mesmo. Uma boa massagem não dá pistas de aonde vai chegar. E provoca dores que aliviam.

Não sei como tudo isso começou. Você chegou, deitou de bruços pedindo carinho. Meus dedos apaixonados tocam sua pele oferecendo carinho durante uma longa sessão daquilo que ele mais gosta. Massagem! Eu, admiro o tom da sua pele, enquanto você relaxa. Sempre termino no peito, onde mora o coração. A última parte deixa um desejo de querer mais: uma boa massagem vai muito mais além do que massagear. Os meus dedos não tão fortes, a ponta do meu cotovelo, a minha pele na sua pele faz crescer o músculo do seu peito.

Eu pergunto - Tá gostoso? Muito... Acabou? 22h já. 

Um bom carinho passa depressa, depressa demais. Um bom carinho é só o começo.

Demorou quanto tempo? Meia hora talvez.



Texto: Laila Guedes

MEU PRIMEIRO MERGULHO: No mar de 2015

O MEU PRIMEIRO MERGULHO: no Mar de 2015

Eu nunca vi o mar desta forma. Nunca tomei um banho assim, como hoje. Quando entrei no mar de 2015 pela primeira vez, reencontrei o belo. Não foi no primeiro dia do ano, nem a noite. Foi no terceiro dia, sob a luz do sol. Meu corpo quente lentamente foi se tornando parte daquela imensidão transparente. Então fechei os olhos e passei meu corpo inteiro por debaixo da onda. Mergulho após mergulho, senti meus dedos tocarem a areia. Nunca abri os olhos no fundo do mar. Nunca nadei pelada, exceto quando era bebê. Eu nunca vi um raio tão forte e brilhante cortar o horizonte. 

Hoje eu vi tudo tão diferente. Deu uma impressão de que a natureza falava cuidadosa comigo. Não sei nadar tão bem, não entendo o barulho que o mar faz. Mas escolhi mergulhar, mesmo sem saber nadar e tão pouco sei sobre o mar. Não sei como surgiu, não sei de onde veio tanta água e porque é salgada. Com ondas tão ligeiras, e outras tão calmas. Não sei explicar a sensação de estar no mar, nem qual a cor da água que difere de lugar para lugar. Outro dia aprendi que a cor depende da tonalidade que as partículas de areia e os microorganismos mais comuns na sua superfície refletem quando atingidos pela luz solar. Normalmente é azul ou verde, mas já vi outros tons, como a cor do meu amor. Me sinto à vontade para falar da beleza das águas, porque faço parte do que é belo - o conceito serve tanto para mar como para cachoeiras e rios. Não sei viver sem amor e aprender a nadar está cada vez mais difícil.

Mesmo assim, ainda tenho medo que o mar fique seco, tenho medo do dia em que toda água se esgote – espero que não aconteça. Tenho muito medo do fim e o meu maior medo é um dia não ter nem mesmo a natureza para me escutar.

Eu queria que fosse mais fácil me amar. Mas ainda não sei explicar as variações dessa longa extensão de água. Toda vez que mergulho embolo nas ondas presas no meio termo. E continuo tentando encontrar um jeito e as palavras certas pra dizer - Depois que te conheci, eu nunca passei em frente ao mar sem pensar em você.


Texto: Laila Guedes

Um olhar com cabelos ao vento. E sussurrou nos olhos de um vendaval, tão doce e suave, ao ponto de escorregar pela pele alva e macia, na inocência de um gesto. O retrato que vejo colorido tem o mesmo brilho que me faz sorrir. 

Olhar ao alto, então vem, seguir na direção do céu. E mais algumas risadas saíam do seu olhar, quase a sussurrar. Ato contínuo, aos céus ainda sorrindo, embora não soubesse o por quê do seu olhar.

Ao alto, fui surpreendida por um amor sem fim, que soprou um choro em mim. E enquanto chorava, olhava. Eram mais que olhares, eram ventos fortes. Antes de olhar no seu olhar, sentir o vento soprar nos meus ouvidos. Num vendaval adormecido, sem pensar joguei os meus cabelos ao vento. Então vem, que já estou no seu olhar.



Texto e Fotografia: Laila Guedes

COM VOCÊ: quero viajar daqui até a Nova Zelândia

COM VOCÊ: quero viajar daqui até a Nova Zelândia.

- Quer viajar comigo? Eu quero dar a volta ao mundo, de mãos dadas daqui até lá longe. De mãos dadas daqui até a Nova Zelândia e quero fotografar todos as coisas de todos os lugares de todos os dias que andaremos juntas. Quero viajar com você até o último dia.

Se você não faz o que todos fazem parece anormal. Se os seus sonhos fogem do comum. Se, por exemplo, você resolver não ter filhos, ou não se casar, ou viver eternamente solteira, você seria então anormal? Ser diferente implica diretamente na anormalidade do pensamento alheio.

Sair do "comum", buscar o "diferente"... Todas escolhas causam consequências. Se arrepender por nossas falhas faz parte do processo de amadurecimento da alma. Todos os arrependimentos são as causas de grandes expectativas. Cada um vive e busca o que acredita, o que te faz bem, ou ao menos deveria. Aos que vivem na verdade e de verdade, sabem do que venho a falar. O que me faz feliz talvez não te faça feliz. O meu conforto pode ser desconforto pra ti. Os meus sonhos podem ser tão distantes dos seus ao ponto de não te fazer entender certas escolhas. É difícil compreender o desconhecido, por isso te causa estranheza.

Talvez a forma como você me ver te agrade muito mais do que realmente sou. Por que a sinceridade dói e incomoda tanto? Estar perto da verdade é chegar pedindo pra voltar, tapando os ouvidos para não escutar o que não está acostumado a ouvir. 

Vamos arrumar as malas e partir. Juntas construir o nosso mundo de palavras e emoções. Sim, podemos sair por aí ou não ir a lugar algum e ao mesmo tempo construir dentro de nós a nossa verdade. E aí vamos ficar juntas, unidas, dando um abraço bem forte. Quando eu era pequena, fizemos um pacto que, unidas pelo sangue seriamos para sempre irmãs de alma. Recordo do cheiro do abraço forte de uma irmã que me escolheu, ou teria sido a escolhida? Tanto faz. Não deixa de ser verdade, mas, o problema é que, depois daquele dia, minha alma pedi sempre aquele abraço. O cheiro. Em qualquer lugar com você.

Quero viajar o mundo inteiro e quando não existir mais lugares irei explorar o novo mundo que criei dentro de mim. No dia em que conseguir, não estranhe se eu começar a gritar bem alto sem dizer um só palavra. Eu quero dar a volta ao mundo, mil vezes, vezes o eterno. Quero viajar daqui até a Nova Zelândia. Quero ficar sozinha: só eu, o mundo e você.


Texto: Laila Guedes

INDEFINIDO

INDEFINIDO

No começo parecia saudade, só que com o tempo foi se tornando indefinido. Era muito estranho deixar de morar com alguém com quem convivi a minha vida inteira. Não era apenas apego, era muito mais do que a falta de alguém para dividir o teto, os afazeres ou a comida que eu fazia para o almoço. 

Pouco tempo depois, descobri que a saudade não iria sair tão facilmente do meu peito. Num tentativa frustrada de reverte a situação: providenciei outra alma afetuosa, cheia de carinho... Dali por diante, nas poucas vezes em que me iludir, também me convenci de que não adiantava pra onde eu fosse, ou seja lá com quem, o vazio continuaria sendo o meu nobre companheiro. Ah e a saudade, a saudade já não estava mais no meu peito, ela fazia parte de mim. E de fato, nada nem ninguém nunca veio se quer a preencher uma parte do meu vazio. Com o tempo, simplesmente aprendi a conviver.

A saudade não é uma escolha, tampouco algo que conseguimos abandonar. Mas talvez eu seja a responsável por ela. Aos poucos, tento não lembrar sem qualquer pretensão de esquecer por completo algo que é feito sangue nas veias. Eu pensava que saudade e vazio eram semelhantes. Recentemente descobri que não, e aprendi que a saudade é feita de vazio, mas o vazio não é feito de saudade.

Não quero o vazio, porque o vazio é solitário, sinto-me como uma criança perdida no escuro, abandonada, desamparada. É algo do tipo que não se explica, mesmo que se tente juntar palavras por palavras, acentos, e ao invés de “compreender”, me deparo com a “dúvida”. Não sou de desprezar opiniões alheias, mas o que sinto é somente meu, ainda que tente compreender, é somente meu.

Há quem prefira a falta, diferentemente da saudade, é um vazio preenchível por simplesmente não estabelecer laço emocional. Já a saudade, é um vazio que não pode ser preenchido tão facilmente, contudo fecho os olhos e consigo lembrar de momentos tão bons que toca dentro do meu ser.

A saudade nos faz superar a dor sem questionar a falta ou procurar entender o vazio. Finalmente, pedi que saísse. Tive de insistir bastante. Até que um dia, me convenci que a saudade jamais irá me abandonar.


Texto e Fotografia: Laila Guedes

ISSO SÓ PODE SER AMOR: A certeza fala no silêncio dos detalhes


O relacionamento é a grande incerteza que vivemos. Quando o coração fala, incansávelmente, em compartilhar sentimentos à dois e ir além, causa anseios por não te dar garantias, nem promessas de um futuro eterno. Mesmo antes de ter consciência, presenciei corações apaixonados na imensidão do mar, no vai e vem das ondas, ora intensos, ora mais suaves, desentendimentos, lágrimas, reflexões, depois gargalhadas, mãos dadas e já me questionei diversas vezes sobre o que é o amor. Dúvidas insolúveis causa um conflito interno cheio de perguntas e questionamentos - o que estou sentindo, se devo ficar, ou ir embora, se estou perdendo tempo, ou até mesmo se ainda tenho tempo. São tantas perguntas e nenhuma são fáceis de responder, mas elas são mais simples e tangíveis do que o indecifrável sentimento.

Diante do infinito, percebi que o amor não precisa de palavras, muito menos de respostas. O óbvio é tão óbvio que nos cega. A gente não percebe, mas o amor esclarece as coisas mais óbvias e mais raras que a mente humana é incapaz de perceber. A certeza fala no silêncio dos detalhes: no toque leve de uma mão sobre a outra, nos desejos em comum, na vontade de estar sempre juntos, nas brincadeiras à dois, no ciúme bobo, na infantilidade que nos faz sentir até mesmo ridículos adolescentes inconseqüentes, no companheirismo e também nas batalhas diárias que as diferenças estabelecem ao longo da convivência, como os valores, a educação, a forma como enxergamos a vida.

O tempo passa, e ainda tem gente à espera da pessoa, da hora e lugar certo. Como se existisse perfeição. Talvez tenha sido a referência que foi adquirida durante todo o seu viver. O que te foi dito, aquilo que um dia leu no livro ou assistiu em um filme, parece tão perfeito que causa estranheza e incapacidade de atingir o ápice. Mas, o ápice pode não ser isso que imagina. Porque temos a péssima mania de amar o que não temos, de querer o intangível, de buscar o que ainda não conquistamos, de chorar e sofrer como se sentisse na própria carne as dores da rejeição. Como todo mundo, apesar de ter certeza ainda temos dúvidas. Pela agonia que dar ao se perguntar - Será que é amor o que estou sentindo?

Observando um certo alguém, me comovi com um coração feito de amor, mesmo que severo e duro, ainda nutri sentimentos puros e mantêm pulsando a esperança de um encontro na infinitude do que é o amor. A convivência do dia-a-dia nos ensina: a determinação, o companheirismo, o humor e a persistência, juntos com paciência e superação, é possível vencer a batalha diária que se chama relacionamento. A simplicidade é o que alimenta a alma e faz crescer cada dia mais uma sensação de plenitude um pelo outro e que, às vezes, dá, sim, lugar à impaciência e dúvidas, mas no dia seguinte acorda firme e com a certeza de que o amor existe e serve de exemplo vital. Isso só pode ser Amor.

Um beijo é só o começo do despertar...


Texto: Laila Guedes

COISAS QUE SÓ QUEM AMA VER: Ninguém é comum aos olhos de quem te ver diferente


Certa vez, perguntei para algumas pessoas do meu convívio quais são os meus defeitos. Engraçado que todas me deram respostas diferentes. Analisei cada defeito como sendo realmente meus. Alguns, concordei em partes, outros, não entendi muito bem. Contudo a resposta mais intrigante de todas foi: "sabe que eu não sei".

Como pode existir alguém que não consiga ver em você um "defeitinho" sequer?! Por um momento, pensei que fosse cegueira. Ou quase. Mas o amor nos cega mesmo. No fundo dos olhos de quem te ama você é a cor e o brilho perfeito que encanta. Ao racionalizar emoções, encontrei uma explicação menos poética e mais conceitual. Claro, que todos nós temos defeitos, mas se estes não incomodam, perde-se todo o efeito. E quase nem existe. 

Ao pensar nos meus verdadeiros defeitos, tive que escrever alguns numa folha de papel, pra não me confundir. Percebo que há defeitos que não definem quem sou. E sim quem me enxergou assim. Muitas pessoas confundem o que são, e isso não ajuda a definir quem é cada um. Somos únicos, nos defeitos e qualidades, apesar da semelhança com o próximo. A cegueira do amor faz do ser amado alguém singular. Só enxergamos aquilo que somos ou conhecemos durante o nosso viver. A gente se encontra em tanta gente, mas poucas pessoas nos cegam de amor.

Entre aquilo que somos e como quem te ama vê, definem o que vale a pena viver. Por mais comum que pareça ser, o amor nos torna diferentes e especiais. E os seus defeitos são tão pequenos diante da imensidão do que realmente sentimos. Tantas coisas cabem num coração apaixonado. Num olhar desembestado. Aqueles que demoram a sentir, só depois que perdem é que se dão conta de que não é mais o defeito que incomoda, mas a angústia que aperta o peito com saudade daquele defeito. A falta torna a dor maior, todo mundo sabe, ainda que algumas pessoas evitem. 

Os seus defeitos normalmente são o que incomodam nos outros. Mas não te define. Nossas dúvidas, medos, receios, e toda a herança de relacionamentos passados se misturam e também causam cegueira. Diferentemente do amor que é desprovido de maldade. Somos o que amamos, e isso sim nos define. A culpa não é minha, nem sua, mas do embate entre a razão e a emoção, em que a primeira costuma desbancar a segunda. Visto que, a princípio, não tem fim, o essencial é não se perder na confusão que, involuntariamente, criamos por defesa ou medo de se machucar. Permita-se amar e deixar ser amado. Guarde apenas o que for bom. Crie vínculos puros e verdadeiros que estão na categoria das coisas que só quem ama vê. 

Texto: Laila Guedes

* Peguei a imagem que ilustra a coluna no site Traços, Riscos e Rabiscos.
Não compreendo bem. Acho que sei, mas não acredito. Entre nós existem inúmeras palavras não ditas. Um silêncio que não tem fim. Entre nós tem muito mais do que possa imaginar. Há sorrisos, olhares, vozes e cheiros. Mas o que me incomoda mesmo é esse "entre nós"...

MAIS UM DIA


Queria ter mais um dia do seu olhar. Cada gesto de amor se fez eternidade em mim. Te amar dá sentido a todos os meus outros sentidos. Sinto sua falta.

Queria mais um dia, embora saiba que meu amor não acaba assim como um ponto final. É um amor para sempre, e para sempre é muito tempo. Um tempo que é eterno seja aonde for. Amor não teme à distância, muito embora eu saiba que ainda irei te reencontrar.

Mais um dia para sair com você, caminhar no amanhecer. Mais um dia de sol, praia, mais um dia do seu olhar, da sua bravura, avidez.

Na madrugada, escuto o som das patinhas tocando o piso das escadas e corro até tentar te encontrar, de onde percebo que foi só um sonho. Do lado de lá, do outro plano, já tentei te abraçar com a força de uma saudade que não tem fim. E volto a sonhar em silêncio com o brilho intenso do seu olhar.

Queria mais um dia, só mais um dia, um dia eterno que não tenha fim.

É assim, aos poucos, com o cair da noite, que covardemente me despeço. 


*Poema de minha autoria em homenagem ao meu eterno cão, filho, amigo e companheiro - Duca.

O QUE TEM VALOR


O QUE TEM VALOR

Na vida, o que mais me impressiona é o ser humano, me deparo com cada tipo. Todos os dias, o tempo inteiro. Tipo de manhã cedo, quando eu acordo. No almoço, na esquina, no lanche, na virada que a vida dá. Até a noite quando está escuro e ninguém vê. Separo algumas poucas pessoas que, juntas, somam pouco menos que três. Dou preferência às pessoas de valores parecidos para que a convivência seja um pouco melhor. Contudo percebo que até mesmo as pessoas com pensamentos um pouco diferentes possuem uma sintonia forte. Mesmo assim ainda corro o risco de ter apenas uma pessoa ao meu lado em momentos difíceis. Dizem por ai que há pessoas com cerca de 10 à 30 amigos, que são as que comumente sobram em minha seleção. Tenho visto tanta coisa, e me surpreendendo com atitudes de outras, que sinceramente, tem dias que faço questão apenas dessa única pessoa. Prezo pela qualidade e caráter inerente a cada ser e, do que adianta falar que vai fazer, se lá na frente as atitudes não são as mesmas que foram ditas. Nada acontece, foram só palavras. Dizem que eu sou radical demais. Do tipo intensa, que atravessa a tempestade com o corpo em chamas. Mas ainda me considero inocente ao permitir que alguém me engane e me faça mal. É difícil confessar que já olhei para o lado e depois para o outro, procurando por alguém que nunca existiu – quando temos alma pura nos deixamos levar, acreditamos na verdade da palavra. Triste, mas existem pessoas más, sem caráter, que nos julgam mal por inveja. Almas pequenas que não cabem no grão de areia da minha praia imensa.

Dor é a voz que cala após perder a fala. O som que ecoa num vácuo vazio. Se eu tivesse o meu barulho de volta, não aumentaria o tom de voz, mas seria como se estivesse gritando. Seres pensantes, de ambos os gêneros, julgam por vontade própria, depois de criticar erroneamente, depois de tentar esconder a própria fraqueza frente e verso no espelho, depois de perder até mesmo a dignidade ou depois de depreciar o outro na tentativa de igualar o nível. As pessoas, homens e mulheres, como uma prova de ignorância e um sinal de imaturidade, criticam por instinto de sobrevivência e até por falta de informação – o que me parece bastante perdoável.

Muito mais sofrido do que julgar o próximo é fingir aceitar a vida que leva. Incrível, como tem sempre alguém que mal te conhece e só te vê de longe em um lugar que freqüentam sempre. Mesmo com pouca intimidade, tem a coragem em dizer. "Nossa, como você está magra". E eu já sei que vai perguntar o que você fez ou criticar dizendo que está feia, e forte, e magra demais. Engrena então alguns minutos num papo superficial. Você emagreceu, né? Sim, um pouco. Está pele e osso mesmo. Nem tanto. É, mas você já está muito magra, e forte, e feia.

Em nome de um mundo menos preconceituoso, eu poderia ter dito à todos aqueles que julgam o próximo pela aparência "feio é o seu julgamento.. Feio é o seu preconceito... Feio é a sua falsidade" mas o fato é que falar nada adianta, porque a criatura mal se olha no espelho já que perde tanto tempo vivendo a vida dos outros. A inveja parece ter forma humana. É ela quem aponta o defeito do outro. É ela quem dá valor apenas a aparência. É ela quem te dá a mão e te empurra ao mesmo tempo. E quando estiver em um ataque de pânico, a inveja vai rir de você.

Feliz daquele que não julga. Muitas vezes não compreende bem as atitudes dos outros, mas aceita as diferenças. E leva no coração o que tem valor de verdade: ...

Texto: Laila Guedes

*Imagem que ilustra a coluna do Traços, riscos e rabiscos.

FALTA DE AR

FALTA DE AR

O coração é um órgão muscular oco, que bombeia o sangue de forma que circule no corpo. Possue quatro cavidades, dois átrios e dois ventrículos. Tem o tamanho de uma mão adulta fechada. Em média, são 80 batimentos cardíacos por minuto em uma pessoa adulta, contando os batimentos da artéria que passa pelo pulso, sabemos quantas vezes o coração bate por minuto.

O que eu mais gosto no coração é sentir os batimentos quando estou deitada em seu peito. O que menos gosto é quando ele aperta e sinto dores que me faltam até o ar. Quando o ar está fresco, fecho os olhos, e consigo sentir seus batimentos mesmo à distância.

A falta de ar é uma coisa que dá, mas não sei explicar. Faz o coração parar por alguns segundos e não consegue respirar. Isso ocorre quando o coração não está bombeando sangue suficiente para satisfazer as necessidades do corpo. A troca de freqüência é rápida e oscila sem você perceber. Involuntariamente, a janelinha do seu coração ajusta a velocidade dos batimentos para que eles estejam no mesmo ritmo do outro.

Hoje acordei às cinco da manhã, demorei dez minutos para levantar da cama, com o coração meio apertado, procurei por você ao meu lado, e você não estava. Mais tarde, funguei três vezes, coloquei a mão próximo ao nariz para ter a certeza de estar respirando normalmente. Lavei a louca, fiz o café, fechei os olhos e vi você, porque é você quem vejo quando fecho os olhos, você e seu cachorro, você e suas bagunças, você e seu cheiro forte, você e seu olhar que oscila entre o meu quando estamos frente a frente, enquanto você não precisa dizer nada que já compreendo tudo. Já que temos um hábito involuntário de ler pensamentos um do outro. Pode parecer que esqueci, mas a ausência nem sempre significa não estar junto. Não há muito o que dizer. Quando não estou com você é o mesmo que estivesse, mas não sei explicar. É como falta de ar. Ponho a mão sempre no peito para sentir seus batimentos no meu. Você continua aqui dentro de mim.

Texto: Laila Guedes

*Imagem que ilustra a coluna Traços, riscos e rabiscos.
Mesmo que caístes pelos tropeços que a vida dá
Levantaria mil vezes mais
Das vezes que me senti fraca, não estava
Bastava testar a força que o Senhor depositou em minha vida 

Mesmo que o mal vinhesse atrapalhar o meu destino
Um sopro levaria mil vezes mais
Das vezes que senti frio, não estava 
Bastava sentir o calor do amor que o Senhor derramou em minha vida

Mesmo que achastes que me perdi
Me encontraria mil vezes mais
Das vezes que me vi sozinha, não estava
Bastava olhar ao lado pra perceber a presença do Senhor em minha vida

Mesmo que, mil vezes mais 

Das vezes que, bastaria apenas o Senhor

FILTRO DOS SONHOS


Basta ACREDITAR! Estou sonhando, não sei se é real, até que abro os olhos e vejo meu reflexo no espelho. Quando me aproximo, me encontro com roupa de dormir. Pergunto o que está acontecendo e não escuto mais aquela voz interior. A mesma voz que sempre vem me contar o que se passa em meu olhar. É também o meu guia sonoro no caminho da vida. Eu fico sem entender certas coisas, porque as pessoas perdem tanto tempo querendo ser o que não é – qual a voz que diz quem somos nós e qual o motivo de estarmos aqui -, e ao mesmo tempo fico refletindo porque as pessoas tentam esconder as suas fraquezas. O reflexo do espelho não é o seu verdadeiro eu?

Cuidado com o que diz hoje que pode ser o seu julgamento de amanhã. Há uma voz que chora vez em quando, o motivo eu não sei bem, porque a voz derrama tantas lágrimas, certamente, não sei se ela vem de dentro ou se perdeu lá fora – não tive tempo de conversar comigo mesma esses dias. A voz se calou, está um silêncio aqui dentro, eu perdida dentro de mim, não encontro lugar para me encaixar. Fico encostada na parede de um julgamento, esperando o próximo preconceito, que está por vim. As pessoas que me rodeiam sempre tem algo a dizer, mesmo que não compreendam muito bem o sentido que me faz seguir. O meu jeito incomoda, as minhas escolhas também, tudo aguça ainda mais o julgamento e preconceito alheios. 

Alguém te fala como deve ser, o que deve fazer e por onde tem que seguir. Quinze minutos depois, você muda tudo de lugar, e todo mundo pensa que desistiu. Por que sumiu, ou recuou, ou ficou por um tempo parado observando os passos que não deu. Aí você aparece, mas ainda não consegue se ver. Começa uma espécie de análise interior em que a voz diz que está no lugar certo, na hora certa e preparado para vencer. Nessa hora, você vai com tudo sem nem olhar ao redor. Então seu coração acelera, e você consegue ir além, ao invés de contemplar o caminho, seu pensamento distraído vislumbra o que ainda está por vim. Ei, acorda, está perdendo a melhor parte do filme. E a pipoca ainda nem chegou na metade do pacote.

Rabisco dentro de mim frases curtas que me diz assim "quero o que é meu", "tudo posso, tudo quero, tudo consigo", "vencerei", "sou forte muito mais do que imagino ser", "estou passando mal, mas está tudo bem, estou sem forças, mas continuo caminhando, acho que na próxima esquina eu paro e dou uma respirada profunda, ganho ar e continuo a caminhar. Não sei exatamente o que é, mas desconfio que seja vontade de vencer".

O que eu digo? Pois, basta acreditar que tudo que é seu virá, o que falta é encontrar o caminho que te leva até lá, e durante o percurso a palavra "desistir" nem se quer chegou perto de mim.

Texto: Laila Guedes

*Foto que ilustra a coluna Traços, riscos e rabiscos.

AGUARDENTE


Se a inveja viesse em forma líquida, seria uma aguardente. A inveja viria em uma garrafa grande e bonita, sendo que cada garrafa conteria muitos litros de inveja, porque a inveja é tanta que não caberia em uma única garrafa.

No primeiro gole de inveja, a garganta estaria tão seca que beberia sentindo alívio e prazer. Nos próximos, sentiria umas pontadas na nuca – é comum que, no início, a inveja se confunda com algo bom. Quando acontece, pensa-se que todos no mundo são iguais a você, que não tem tempo e nem necessidade de desejar algo alheio. Lá na despensa, se a inveja viesse em um forma líquida, seria em garrafa plástica, tipo garrafa pet, em que se torna descartável após usá-la – é que com o tempo você percebe que o líquido que tanto te dava prazer era só embalagem e nada mais. Lá por dentro, depois que você vira dois ou três goles do líquido, a queimação começa da garganta até o estômago. O líquido explícito e transparente, forma parte da psicodinâmica de algumas dores e traumas escondidos no fundo da garrafa.

Há casos em que, depois do primeiro porre ou de beber do próprio veneno, a inveja se revolta, causando um sentimento de frustração insuportável perante algum bem de outra pessoa. Dói especialmente na nuca, nas têmporas e na testa, a dor na alma vem com tempo e é a que mais pesa e perdura. A cabeça pesa como se estivesse apertada por um daqueles círculos de ferro usados em torturas medievais. O problema é a inocência de quem acredita que somos todos semelhantes, e deveríamos ser. É difícil perceber quando a água é brasa e no soprar pega fogo. A ressaca mora ao lado e você nem sabe. A consciência é a que mais sofre – apesar dela mesma nunca doer. A luz do dia fere os olhos de quem inveja o próximo, qualquer ascensão ao sucesso retumba dentro do ser embriagado de inveja. Na boca, um gosto amargo. Não tem o que quer, mas também não faz nada para conseguir, apenas engrandece os olhos, agoniados, deixando a água imunda escorrer. Para alguns, é difícil tentar perceber que cada um foi feito para viver diferentes destinos, e que a diferença existe para distinguir a capacidade e merecimento de quem sabe o que quer. E quem sabe o que quer vai à luta, realiza e faz acontecer!

A inveja não vem com uma placa que diz "quero o que você tem e eu não consigo ter". O desejo inconsciente de querer ter ou ser o próximo é tão grande que muitas vezes causa rancor contra outros que possuem algo que deseja, mas que não pode obter ou não busca desenvolver. Daí você resolve beber mais e mais ao invés de ir buscar o que não tem. Menos hoje do que ontem, um pouco mais do amanhã do que hoje. Menos atitude, menos coragem até não haver mais nada. Por que a inveja é um mal que retorna. É uma fulga sem saída. Uma ducha solitária com ralo de espelho. Antes de molhar o corpo inteiro, a inveja definha e escorre. Se a inveja fosse boa, ela não caberia nas almas pequenas. Então, os pequinês ficam com a estima baixa, e é possível que ainda olhem a pessoa ao lado e finjam ser o melhor – esta, sim, efêmera ilusão -, obviamente quem engana a si próprio engana o mundo e perde a si mesmo. Essa ilusão muitas vezes está apta a dar o tiro de misericórdia na alma moribunda. E dói. E mata lentamente. O nome disso é despeito. O nome disso é fraqueza. O nome disso é covardia. O nome disso é medo. Até que morra de vez. Enquanto esta aguardente ainda saciar a sede desta gente tóxica, um túmulo é só um túmulo. A inveja já nasce morta. 

Texto: Laila Guedes

Fotografia: Francesco Romoli

VOCÊ GOSTA DE MIM?

Você gosta de mim? Porque a pergunta agora? E existe hora pra se fazer uma pergunta? Espertinha. Ah, vai, responde. Não. Não o que, não gosta de mim? Vamos dormir, está tarde. Não me respondeu a pergunta que te fiz. Sério? Vai, responde. O que? O que te perguntei. O que você me perguntou? Se você gosta de mim. Você parece criança, tudo quer saber. Eu sei. Sabe o que? Se você gosta de mim. Se você sabe, então porque pergunta? Boa pergunta. Você é louca. Louca, eu? É, sim, você. Porque? A gente só pergunta o que não sabe. E quem disse que eu sei? Você, ora, além de louca é esquecida? Sem ofensas, por favor. Desculpa, não foi minha intenção. Está perdoado. Obrigado. Obrigado, o que? Por me desculpar. Não precisa agradecer, perdoar você é como perdoar a mim mesmo. Você viaja demais. Você acha? Óbvio né. Porque óbvio? Deixa pra lá. Você sempre fugindo. Vamos dormir. Vai continuar fugindo? Não estou fugindo. Está sim. Não, não estou. Tem certeza? Sim, tenho. E você tem certeza que gosta de mim? De novo essa pergunta. Mas, você ainda não respondeu. E nem vou. Por que? Por que você sabe a resposta. Sei? Não sabe? Sei... mas quero ter certeza. Certeza de que? De que você realmente gosta de mim. Já deveria ter essa certeza. Deveria? Óbvio né. Por que óbvio? Ah, vai, para, vai começar tudo novamente. Você não tem paciência comigo. Tenho. Não tem. Tenho. Então, responde vai. Ah, vai encher o saco de outro. Está vendo, não tem paciência comigo. Mas, você está procurando. Procurando o que? Me tirar do sério. Consigo tirar você do sério? Sim, muito. Não sabia. É, você nunca sabe de nada. Sério, não sabia. Sonsa. Quem? Você né, tem mais alguém aqui? Não. Então vamos dormir, só nós dois. Mas, antes preciso saber. Saber o que? Se você gosta de mim. Sério, são duas da manhã. Responde... Qual a resposta que você quer? A verdade. Não. Sabia. Sabia o que? Que você não gosta de mim. Eu não disse isso. Disse sim. Não. Ai, disse não novamente. Não, não disse. Vou embora. Pra onde? Pra onde tenha alguém que goste de mim. Deixa de drama e dorme. Não, vou embora. Vai fica. Porque? Por que eu gosto. Gosta de que, de mim ou que eu fique? Tem diferença? Lógico que tem. Não vejo diferença. Você nunca ver nada. Vai, vamos dormir. Só se antes você responder. Responder o que? Se você gosta de mim. Não. Não gosta de mim? Não. Eu sabia. Eu não gosto de você, eu te amo!o

MONTENEGRO: A força da alma de um guerreiro

Então o que é vencer? Dê-me uma definição. É ter o primeiro lugar no ranking dos campeões? Ou ser julgado por um júri que avalia a sua performance em um único dia? Você sabe me dizer o que é? Se você vence todos os dias a si mesmo, controla toda uma mistura de emoções que ferve dentro de ti. E ao final a colocação não parece tão favorável, não fica claro pra muita gente o que é ser realmente um VENCEDOR!!!

Nós nos julgamos ao mesmo tempo do julgamento do próximo. Nós vivemos em busca de "algo" que chamamos de "sonhos". Mas quem somos nós pra definir ou julgar algo tão subjetivo. Apenas vivemos e vamos seguindo, e vencendo essas batalhas de vontades. Incertezas que nos cercam e imploram por alguma prova de quem somos e qual a nossa missão. Tudo que a gente sente é o que tem de real valor.

Vencedor é quem muda e evolui cada parte de si mesmo. É inevitável está batalha que  acontece diariamente dentro de cada um de nós. Vencer a si mesmo é inevitável e acontece o tempo inteiro, mas nem todos percebem. Esta batalha que é para poucos, faz de si mesmo um ser humano cada vez melhor. Então agora é você contra você mesmo. Sempre, a mesma batalha. A sua humildade é posta a prova. A dignidade, o equilíbrio, o auto-controle... Seu caráter, índole e essência vem a tona. É a sua sensibilidade contra a sua força de vontade. O seu medo contra a sua superação. E você procura respostas de perguntas que nem existem. Começamos a ver a vida através da instabilidade do fio tênue dos nossos sentimentos e emoções.

Então agora sua grande avaliação são os seus limites impostos por você mesmo, a de que não sou do seu mundo, e não sou do seu tipo, e não sou do jeito que você espera. Não vinhemos aqui para mostrar o que os outros esperam ver. Se as suas atitudes não condizem com o mundo lá fora, que ruge na prisão do impasse de quem realmente somos de verdade, o que isso importa? E por um segundo que parece uma eternidade, você fica no seu canto consternado no seu mundo tão confortável, com medo desta batalha. É inevitável fugir, adiar, protelar. Quando a realidade vai ao teu encontro, e uma leve impressão de está meio louco faz morada, a gente tente a aumentar as coisas neste momento, numa contração involuntária do que você é de verdade contra o que tenta mostrar ser. Então vem a dor muito grande, e a fome que devora e você não consegue enxergar perspectiva de salvação, não há mais lugar para se esconder. É inevitável, é chegada a hora da batalha, de você contra você mesmo. 

Em segundos você entende o que te levou até aqui, tão longe e tão próximo de ti. Então começa a fazer morada no seu próprio cemitério. Com medos, receios, e traumas mortos e enterrados. Sensações que a gente desenterra de vez em quando sem saber muito bem o motivo e nem o que o que procura. Talvez seja pra ter certeza que fizemos a melhor escolha enterrando e certificando que tudo está morto. Situações que vivemos, escolhas, frustrações que a gente lamenta, afinal, já fizeram parte da sua vida em um momento e… Será que não dá para começar tudo de novo e tentar acertar dessa vez? Há quem reflita que o passado ruim e os novos caminhos fazem você sentir que a vida caminha para frente e isso significa, ainda que muito, que um dia vamos superar as dores, os medos, os fracassos, e iremos vencer. Dai então tudo que nos atormenta vai ficando para trás, nossos monstros internos, a escuridão… A luz ilumina o caminho dos vitoriosos e é, nesse exato momento, que você encontra com seu eu mais profundo. 

Numa batalha devemos levantar e seguir lutando. Há momentos que imaginamos não conseguir se erguer, devido a tal estado de fraqueza. Quantas vezes, em nossos questionamentos, ou em momentos difíceis, confessamos a nós mesmos sobre as dificuldades para andar, para continuar, para seguir a diante. Se os dias lhe parece demasiado pesado, com sua carga de problemas, não desista de lutar. Se você está a ponto de abandonar tudo, espere um pouco. Aguarde o amanhecer, espere o dia passar e deixe o sol retornar outra vez. Quando você menos espera, o socorro chega, a situação se modifica, a problemática alcança uma solução. Não se esqueça: o amor de Deus nunca falha! E, Ele sempre caminha ao nosso lado.

Nunca fuja da vida. Não se esconda dentro de si. Resista até o fim por que desistir neste ponto é também desistir de viver, desistir de você! Vá e Vença a sua batalha interna. Vença você mesmo todos os dias. Um dia irá perceber que a busca é, na verdade, apenas um modo de dizer a você mesmo o quanto é capaz de vencer todos os seus limites e barreiras.

Muitas vezes o guerreiro é testemunha silenciosa do seu sofrimento. Na medida em que ele sente fraqueza profunda ou se vê diante de um obstáculo, ergue-se dentro dele uma força brutal. O coração então é tomado por um desejo intenso de vencer, de ser melhor do que já foi. Na ausência da força do corpo, o espírito permanece forte e a força da alma intensifica quando passamos a acreditar em nós mesmo. Não alimente seus medos, eles irão te importunar, te julgar, advertir, desconfiar, reclamar, a limitação se intensificam na sombra dos seus medos, da sua falta de crença. Transcenda os riscos. Aproveite ao máximo as oportunidades. A força de um guerreiro não vem só do físico, vem da mente. E a maior de todas vem da alma - a força da alma de guerreiro. Seu corpo é a expressão do seu eu interior. Os limites é você quem dá a si próprio.

Há momentos também que o guerreiro luta com sensações confusas, restrições, aprovações, e quando está preste a chorar sem motivos, ele chora. Todo guerreiro também é humano, e sente os efeitos de todo o processo da preparação. Os efeitos anabólicos que está secretamente se fortalecendo também faz parte da superação. 

O único limite de si mesmo é quando criamos barreiras no inconsciente. Nada é sobre-humano como muitos pensam. Você pode escolher o melhor pra você e ir lá fazer. Temos o poder de transformar o negativo em positivo, a fraqueza em força, as limitações em algo muito além do que se possa imaginar. É só uma questão de escolha. Se você abrir a janela da sua alma encontrará a força que te conduzirá aonde você quiser chegar. Os caminhos estão sempre abertos, é você que não consegue ver. A cegueira faz parte também da fraqueza de espírito. No dia que entender que Deus faz morada em ti, que Você e Ele são um só no nível da existência, irá unir força que não há tempo nem espaço nem nada que consiga parar. Apenas uma palavra o define tão bem - Glória!


Desacelera agora e adormeça em teu próprio peito. Olhe pra ti, bem dentro de ti. Você é um VENCEDOR?
Eu falo pelos cotovelos, dedos, eu falo pelos pés, mãos e cabelos. Eu falo e falo, até demais eu sei. Da minha boca não sai uma só palavra, mas eu dou sinais que você não percebe. Quando é diálogo e você pensa que é silêncio. E eu insisto em dizer, mas você não escuta. Não é surdez. Não é silêncio. Nem falta do que dizer. Nem palavras. E eu já nem sei. Me desculpe por eu ter gritado tanto ao ponto de te deixar atordoado. É que ficar meio segundo sem falar é algo que ainda não sei fazer.  Eu já tentei, mas não consigo. É que quando estou com você não sei o que me dá, não paro de falar. Eu só falo e falo, e grito e grito alto. Me perdoe pelas vezes que te acordei no meio da madrugada, eu tentei te contar meus segredos, mas você não escuta, não entende nada. Talvez se você tivesse dado um pouco mais de atenção aos sinais que eu te dou, entenderia que existem diversas formas de dizer sem palavras o que sinto por você. Me perdoe as vezes que te liguei xingando, os meus sentimentos são malcriados. E de tanto querer dizer, sentir, em vão eu te perdi ao pensar que sem você eu não seria mais a mesma. Ou pensei, sei lá, que entre eu e você nada existia e isso era só bobagem, medos, insegurança tola. Tentei fugir, ao mesmo tempo que te seguia, permanecia entre te querer e não te ter e isso para mim é como perder   um pouco de nós, mesmo sabendo que o nós era só fantasia. Tentei me proteger fazendo da minha dor uma droga de sentimento que eu neguei para mim mesma. Eu me enganei, me escondi, tentei não sentir, mas a voz dentro de mim gritava mais alto do minhas palavras abafadas. Desculpe esse meu jeito estranho de gostar, de dizer, sem saber dizer, mas é que sem eu e você não tem sentido. O discurso é breve, é curto, o verbo é simples e complexo ao mesmo tempo que as palavras dizem sem dizer uma só voz, um breve sussurro, o meu sentimento é mudo para quem não sabe entender esse meu jeito de dizer. E é também bruto, intenso ao ponto de te sufocar por dentro. Desculpa esse meu jeito. Perdoa.

Eu sei, eu dei voltas e voltas, e voltei a te procurar achando que havia perdido algo que não se perde por não se ter. Ou algo que já temos antes de ter. Sem saber. Sem sentir. Ou apenas se dar ao prazer de entender um pouco mais, o que se passa dentro de nós, eu sei é difícil demais. A gente se perde tentando se encontrar. A gente se encontra perdido na pureza complexa do nosso próprio ser. A gente grita sem dizer nada com nada. Eu sofri por deixar passar despercebido o que a vida vinha me oferecendo enquanto insistentemente procurava por algo que eu já tinha.

Por quantas vezes eu já chorei sem saber o motivo, sem entender, sem por que. E em vão eu já falei comigo mesma, gritando palavras sem tradução. Às vezes  sinto falta de algo sem saber o que é exatamente. Em meio a multidão eu te encontrei, entre tantos que me perdi tentando te encontrar sem saber que você já era meu antes mesmo de entender os motivos que me levaram até você. Há quem consiga gritar sem saber o que dizer. E suportar os silêncios que falam muito mais que palavras. Se tantas vezes eu escutei as minhas dores sem dizer nada e superei e reconstruí tudo aqui dentro, só pra te dizer que eu não entendo muito bem o que você diz. Nem você. Mas o meu sentimento já tentou tantas vezes dizer em vão o que eu sinto por você na esperança de sermos só mais uma vez um pouco de nós. O muito que já fomos, mesmo sozinha não estava só. Desculpe a minha covardia teimosa que me impede de seguir, de continuar com você. E eu me perdi, sumi, fiquei longe, sem te ver. Sabe o que é... só não quero que você seja mais alguém que eu possa chorar quando resolver dizer o que eu também não sei dizer. Pois entender seria apenas um detalhe a mais. Sei que pode parecer pouco mesmo sendo muito e por muito tempo. Sei que pode parecer loucura pensar que mesmo quando é ruim é sempre bom. Sei que tenho tudo que preciso, mas mesmo assim quero você. Me perdoe pela loucura que eu sou, por parecer tão pequena e ao mesmo tempo ser tão grande que devasta todo o seu ser. Eu sou você, e você não percebe. Eu tenho uma alma que canta, que fala, que grita na esperança de um dia, por um segundo só que seja, eu consiga me escutar mesmo sem decifrar ou traduzir ou entender o que eu digo. Mas não entendo como pode alguém parecer tanto comigo.

Texto: Laila Guedes

*Imagem que ilustra a coluna Traços, riscos e rabiscos.

NEM EXISTE


Não sei se foi um sonho, mas ainda há pouco poderia jurar que não há mais ninguém no mundo além de mim. Pensei em te ligar pra irmos juntos na esquina, mas você nem existe. Mesmo assim, em um ato involuntário, estico o braço até o aparelho telefônico que encontra-se sob a mesinha de cabeceira e começo a digitar números de quem eu nem sei. Quando acordei, torci para que a ligação não estivesse sido realizada, mas o telefone tocou no meu primeiro suspiro. Mesmo sem querer preciso encarar meus pesadelos de frente, antes mesmo que a minha fraqueza tome conta de mim outra vez, atendi a ligação. E como quem diz "alô" eu disse "não estou". Minha mente ainda não havia tomado total consciência. Ainda meio sonolenta fui guiada pelo inconsciente. Às vezes, é o inverso: o problema é que sempre confundo um e outro. Acredito ser a mesma coisa, e quando percebo, tento restabelecer contato comigo mesma. Algumas pessoas chamam isso de "lerdeza", outras "distração". Eu prefiro dizer que inventei uma nova maneira de me expressar que ainda não tem tradução para o seu mundo, de modo que ninguém entende o que digo, o que penso, o que escrevo e o que vejo. É que durante esse tempo que não escuto, não vejo, e nem presto muita atenção, parece que o mundo parou, apesar de ao mesmo tempo ainda saber que ele continua girando. Pois bem, agora mesmo estou tentando remotamente escrever sobre algo que talvez não compreenda. Se tudo que há em mim eu conseguisse traduzir em palavras, você não entenderia. Pois, nem mesmo eu consigo suportar tamanha grandeza de entendimento. Uma parte compreendo, a outra é pura ignorância do ser. E para não parecer tão anormal ou indiferente as situações, finjo que entendi, escutei, ou que ao menos prestei um pouco de atenção. Meu receio é que, no meio disso tudo, você nunca compreenda o sentido de estar realmente junto. Se por tantas vezes estive só, mas não sentir a solidão. Ao contrário, os momentos que tive a tal sensação do ser solitário, eu estava rodeada de pessoas que nunca fizeram parte de mim.

Texto: Laila Guedes
*Imagem que ilustra a coluna Traços, riscos e rabiscos.

CORPO E VIDA: Um baita de um denunciador


Quando eu era gordinha, das pernas rechonchudas e rosto redondo, houve esse dia em que fui ao gastroenterologista e ele falou que eu tinha refluxo, e que era proveniente do excesso de comida, - a famosa gula. De acordo com o procedimento normal, o médico, solicitou alguns exames para averiguar possíveis doenças que eu poderia ter adquirido devido ao refluxo, disse para eu realizar um exame chamado endoscopia e outro de sangue, incluindo teste de alergia à lactose. Todos exames foram realizados e estavam em perfeita ordem. Tratamento: controlar a GULA! Então, procurei um nutricionista para uma reeducação alimentar.

Sabe o corpo humano? Ele diz tudo. Impressionante como ele é mais esperto do que eu. Dá sinais. Exatamente como você é, o que come, como vive. Baita de um denunciador. Ou senão, não haveria sinais tão diferentes para uma coisa só. Todos tem o físico que buscam, afinal de contas, não é certo que uma pessoa, no caso eu, tenham tanta disciplina, enquanto outras que vivem desregradas tenham os mesmos resultados.

Meu plano alimentar tem desejum, pré treino, pós treino, pós tardio, lanche, jantar e ceia. Há dias em que pulo o café da manhã, e vou direto ao pré treino, ou evito a ceia, pois fui dormir mais cedo. E confesso que é muito mais comida do que antes, só que fracionada de 3 em 3 horas. Gosto da minha rotina, do acordar que vem junto com a caminhada. Do descanso do sentar, o café da manhã, do carinho e cuidado de cada proporção e alimento escolhido para tornar a minha alimentação mais saudável. Do amor mais profundo e a vida, mais leve. Dos treinos diários na academia que requer mais esforço, vontade e disciplina, transpira e ativa. O bem-estar me toma pelos dedos do pé, percorre todo o corpo e traz qualidade de vida para todos os meus dias, especialmente hoje.

Os dias de treinos são tão comuns que até um dia de sábado ou domingo não é muito diferente de uma segunda-feira. Não sei que dia é hoje, mas sei que é dia de treino de quadríceps. Dia das pernas tremerem sobre o aparelho e o estresse muscular dobrar de tamanho a cada repetição de série. Quase sempre vejo, uma nuvem negra, eu meio tonta sinto calafrios. A coluna esquenta por inteira, estou suando frio, e olhando para as pernas, e dizendo: “trema, trema!”, "cresça, cresça!". Espasmos!

Toda vez que digo em uma conversa que como demais ou que vou a academia todos os dias, riem de mim. Quem foi que disse que para ter uma aparência de magra é preciso passar fome? Que é exagero freqüentar academia todos os dias? Bando de desenformado que tira pelo próprio comportamento o do outro. Se gosto de comer muito, treino intenso para acelerar meu metabolismo e gastar tudo que consumo, não minto por tolice – nas vezes que cometi erros grosseiros como interromper quando alguém está falando, mudar o tom de voz, gritar ou falar alto e outras vergonhas, tive refluxo e passei mal. É tão ridícula uma pessoa que obviamente está mentindo. Ou que mente o óbvio. Ou que mente para si mesma.

Simpatizo de imediato com quem assume com felicidade a condição física. Presto atenção. Sou capaz de oferecer uma salada ou uma feijoada. Dou o que melhor te agrada. Se bobear, dou incentivos leves ao perceber descontentamento e frustração. Péssima estratégia é tentar negar o óbvio. Fingir está satisfeito com as gorduras localizadas, roupas apertadas e todo o desconforto que o sobrepeso causa, é enganar a si próprio. E o pior, desistir sem tentar, criticar sem provar. Já fui julgada de chata: por exigir demais, por incentivar e apoiar, por acreditar na força de vontade do outro, por tentar mostrar o quanto meu estilo de vida me faz bem. Complicado quando se tem amor demais envolvido, acabamos desejando sempre o melhor desempenho, a melhor performance. Nunca ofereça uma ajuda para uma pessoa insatisfeita: quase sempre irá te interpretar mal.

Na minha lembrança – cruel – o incentivador é alguém que deseja e incentiva você a alcançar suas metas e objetivos. Hoje, tenho certeza de que eu não exigir nada além do que se possa conseguir – pelo menos a parte das metas e objetivos foram alcançadas. Quando se cumpre o que foi traçado, os resultados virão, caso contrário é pura ilusão. Foi seguindo uma rotina diária de exercício e alimentação balanceada que obtive resultados não somente estéticos, mas saudáveis. Aprendi o que é vencer a si próprio. Provei o sabor da vitória. E vivendo assim, não tenho refluxo. O meu organismo faz questão de evidenciar isso.

Isso que acontece todos os dias, o tempo todo, comigo e independente de mim, isso que os outros chamam de “vida” fica bem pior quando é de mentira.

Texto: Laila Guedes

*A imagem que ilustra a crônica é da Traços, riscos e rabiscos.