sábado, 31 de janeiro de 2015

ATÉ AMANHÃ

O dia seguinte nos faz acreditar que vai ser o último – e, se por acaso, for?

Deixar de pensar no dia seguinte é muito difícil. Tão difícil quanto conviver sem ele. O futuro é duvidoso, talvez ele não aconteça. O dia seguinte pode não existir, caso o hoje insista em permanecer mais um pouco, ou eternamente. O futuro é incerto, e não te dar garantia alguma que o dia seguinte virá. Mesmo que todos os dias acorde e veja o sol nascer. E se o dia teimar em não ir embora? Você tentará empurrá-lo para que ele volte para o seu lugar? E se o amanhã durante a noite resolver dormir e nunca mais acordar? E se todo aquele ciclo que se repete todos os dias não se repita mais?

Há quem não empurre, mas puxe o futuro pelo braço: senta aqui, vamos conversar. Eu estou ansiosa pelo dia seguinte, que já está atrasado. Se preciso fosse, gravaria em fita cassete todo o meu futuro feito novela das 6h.

Não pensar no futuro é um exercício diário, que alarga a mente e dá insônia alongando o próximo dia que cria dúvidas se irá chegar. Quero adivinhar o que vem daqui a pouco – ainda que o pouco esteja bem próximo e seja igual ao dia que passou.

O futuro é uma caixa sem fundos. E não se sabe o que está guardado por lá, mesmo que consiga entrar para ver algo à sua frente estará tão escura que seus olhos afundaram no rosto, feito em areia movediça. Preciso de outra tentativa (não tem), uma prova de que o amanhã sempre vem e dois ou três versos de absoluta certeza. Pego a minha esperança e coloco debaixo do travesseiro, fecho os olhos e tento sonhar com o dia seguinte. Crio expectativas. Fico ansiosa como em véspera de prova... O dia seguinte é para sempre uma incerteza constante – é preciso reencontrá-lo todos os dias para sentir o calor da sua existência ou deixá-lo ir para sentir o frio da sua ausência.

Se já não há mais tempo para lamentações, pois, devo aproveitar o dia de hoje como único, porque talvez amanhã eu não o tenha. E, hoje é tudo que eu tenho agora...

Não revelarei o dia de hoje porque é desses que só se conhece um ao longo da vida. Um daqueles momentos em que só existe você no mundo. Eu olho em meus olhos e em seguida desvio para o infinito – a distração é o que te leva ao encontro das luzes coloridas, a mesma que ilumina meu rosto e o meu futuro: sonhos, planos, desejos e esperança de caminhar sem saber aonde irá chegar, de braços abertos em direção ao pôr-do-sol. Pra onde vou agora?

Eu não quero me negar ao simples prazer de sentir um único dia. Talvez o último, e sei que o amanhã é apenas um grito no vácuo, e que o futuro é incerto, e que estamos todos condenados ao fim, e que haverá um dia em que chamaremos de último. E tudo o que fizermos agora é o que valerá a pena, e sei que o sol poderá não nascer novamente para que eu possa te dizer o quanto eu amo você!

Não dá para escolher quem você irá amar amanhã se não tem certeza se o amanhã nascerá neste mundo, mas é possível escolher quem irá amar agora. Hoje você faz as suas escolhas, amanhã suas escolhas fazem você - e, se por acaso, for.

Até amanhã!


Texto: Laila Guedes