segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Canteiro
sábado, 25 de dezembro de 2010
Vale
Quando não se tem nada a perder
Me vem o vazio profundo
A dúvida do que fazer
Quando a falta me faz falta
E por um instante
Estranho minhas próprias estranhezas
domingo, 31 de outubro de 2010
O que vai por dentro
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Embarcação
O importante não é apenas embarcar
É saber o que te fez pegar aquele barco
O que te levou até ele
Diante de tantos barcos,
Apenas aquele que te parecia tão igual aos outros
Te chamou mais atenção
Não seria ele tão igual aos outros?
E o que te fez embarcar então?
O barco não te pediu para você ser passageiro
Você o escolheu,
Você embarcou por livre e espontânea vontade
Ou talvez tenha sido uma energia que te levou ao barco
Algo que os seus olhos não conseguiram ver
Algo que os seus ouvidos não conseguiram escutar
Algo que não é daqui,
Não é de mim nem de você
Eu não sei
Talvez eu não consiga ver também,
Nem ouvir,
De certo que ainda não tenhas chegado ao meu coração
Apenas consigo sentir o balanço do mar
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Eu tentei
domingo, 20 de junho de 2010
Túmulo
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Sitiada pelo medo
A fragilização de um povo, após uma guerra violenta, permitiu o meu nascimento em berços de ódio e rancor. A medida que eu me aproximava, a fumaça preta subia quente deixando meu rosto marcado pelo fim de toda uma civilização. Foram milhões de mortes, e junto aos seus túmulos a minha indignação também fora sepultada. Por inúmeras vezes esquecia o motivo do conflito. O que moveu pessoas de outros lugares a devastar um povo, que jamais conseguiu se reeguer? Um povo melancólico, triste, frio. Viviam fanáticos pelo prazer de ter esperança de um dia ver o sol. O céu era cinza cor de fumaça, a terra seca e pobre, só restava carvalhos. O meu povo não queriam me ver nascer, assim como não queriam me ver sofrer na amarga dores da vida.
Fui exilada, ainda criança, e um senhor me acompanhou durantes anos. Ele era um homem de poucas palavras, me olhava de canto de olho como se quisesse sorrir, mas não tinha esse dom.
Deveria sentir-me envergonhada por gostar de ser refém desta terra, dessa vida? Sentia-me acolhida por um povo caloroso, fervoroso. Um povo alegre e carente, encantado com o divino. Um povo que busca a paz em seus diversos rituais. Um povo que busca ter em quem confiar.
Com o tempo fui obrigada a aprender a não ser eu. Entenda, ele praticamente me obrigou. Eu recebia ordens, e não tinha ninguém, apenas ordens. Não havia mais saída. Me senti encurralada, refém de uma nova vida, de um nova cultura. Sinto uma pena ao vê-lo hoje como o enganado, iludido por pensar que eu sou quem sou, sem querer saber que não sou quem eu sou, e sim quem eu devo ser. Mas ele prometia pôr um fim as minhas angústias.
Em lágrimas eu percebi o que tinha feito durantes anos de minha vida. Eu havia repudiado o que era divino. Eu o neguei, por medo, receio, não sei. Minhas palavras sempre foram ásperas e duras. Talvez por ter sido assolada por um pesado desespero. Meu medo implorou que não o visse mais, como o nunca, o nunca mais. Foi tamanha a força que nunca mais o vi. Desde então vago num vale vazio, sem esperança, sem...
Mesmo sem ele, ainda assim eu tinha o amor. E no vazio foi-se tornando maior, cada vez mais crescente. Olhei, e eis que o vi ao meu lado, grandioso, fogo que ardia, brisa que refrescava, puro e vasto. E eu o encontrei, no canto dos pássaros, ao abrir os olhos, tamanha era a luz, e ali estava ele. Escutei um vento suave soprar... “é dele que estou falando, seu nome é esplendor e seu sobrenome bondade”... A minha tristeza era tão pobre ao vê-lo feliz somente pelo simples fato de viver. Tão pequena eu era diante dele. Foi difícil perceber que caminhávamos de mãos abertas. Mesmo estando ao meu lado não conseguia sentir o calor de suas mãos. Sentia apenas meu suor gelado escorrendo entre meus dedos. Arrepiava-me-ei cada respigo, molhando um vazio de palavras. Que crescia no vazio, que crescia na escuridão. Gritei por sete vezes “acendam a luz, acendam a luz, acendam a luz, acendam a luz, acendam a luz, acendam a luz, acendam a minha luz”...
E o céu se abriu, em imensos raios, veio a chuva. E logo um grande arco de multicores.
Por longas horas, acordei em um quarto fechado, a luz do corredor se apagou, acendeu o medo em mim. Lembrei dos gritos, das perdas, das dores. A imaginação corroia a minha mente, a incerteza me deixava confusa e insegura. Teria sido sonho ou miragem? O medo crescia cada vez que imaginava o estranho, talvez por sempre pensar que o que não se deve ver se manisfesta onde não pode ser visto. O escuro é medo. O movimento, o barulho, a confusão, tudo se move dentro de mim nessa escuridão.
Eu temo a mim mesma? Uma voz persistente de altiva força teimava em se pronunciar dentro de mim. São tantas perguntas que me deixam sonsa, completamente tonta, chego a sentir ânsia de vômito.
Perdi o tempo, a noção de onde e quantas horas estava ali. Ouvia somente pingos fortes quebrando-se no chão encardido. De certo que, o lugar fedia mais no olhar. Nojo, repugnância, novamente sentia uma forte ânsia de vômito.
Por que de uma certa forma eu imaginaria que alguém poderia vim me salvar? Por qual infinita ou até mesmo mínima obrigação esta pessoa teria? Seria eu, somente eu, a responsável por mim mesma? Sim, eu sabia, aliás eu sei. Mas lutava contra. Ele era a única pessoa que eu tinha?
Não, eu só tinha a mim mesma, e só havia me dado conta quando estava no meio da multidão. Carros passando, pessoas gritando, inúmeras mãos, umas com cigarro, outras com copo de café morno. Ali estava eu, no dia e horário marcado. Mas ninguém apareceu. Não vi meu povo, não vi minha gente, nem mesmo o arco luminoso, nem mesmo ele. Abaixei a cabeça lentamente e voltei a ler meu livro "a prisão é o meu lugar"... Esse tempo todo estive no meio da minha guerra, numa explosão que vinha de mim. Fui eliminando cada um, meu rancor, meu ódio, meus medos, meus lamentos, minhas mágoas, minhas frustações, minhas angústias, minhas inseguranças, minhas... meus... foram milhões de mortes. Como tudo aquilo queimava no meu peito. Abri os olhos para ver o sol nascer e meu coração renovado gritou “hoje eu prometo ser quem eu quiser”.
sexta-feira, 19 de março de 2010
A Pedra
O meu amor... ah, só ele me faz sentir esse cheiro. O cheio bom da felicidade. Talvez, hoje eu nem me importe tanto que meu amor não me ame o tanto que eu o amo. Ou talvez, seja por ter dúvidas deste amor. Se por tantas vezes, este amor foi volúvel entre eu e outra. Eu e outra. Eu e outra. Eu e outra. Esse som ensudercedor ecoa por minha mente, estremessendo o meu corpo. E cada vez mais está se tornando parte, eu e outra, de mim mesmo.
Estou ensopada de lágrimas, que chego a sentir medo só de pensar em te ler neste momento. Sinto como se minha alma saisse de mim, aquela que sempre escolhe caminhos contrários. Sou refém dela, não sigo as minhas próprias vontades, pois os meus desejos são mais fortes, o meu instinto mais cruel, e é dela que mais temo.
Ao tocar em cada página sinto um tremor, e ainda mais desejo ao vê-la se despir lentamente entrelinhas, versos e melodia. O meu envolto de brancura lúcida me puxa e me arrasta toda vez que tento voltar. Um passo pra trás é uma tortura grande, que ela jamais permitirá que aconteça. Pés foram feitos para se caminhar para frente, mesmo que este caminho seja o reverso do outro que já se foi.
A minha loucura é branda, e imperceptível aos olhos de quem tenta vê-la. Aos olhos de costume e condicionalmente mortos acreditam vêem somente a brandura do meu ser. Ninguém sabe por onde eu ando, com quem eu falo e nem quem eu vejo. Nem mesmo eu saberia se continuasse a querer ver com os mesmos olhos.
Fome, eu sinto pouco, talvez por me acostumar a pouca comida. Mas, de fato, a fraqueza tenta por vez me derrubar toda vez que tento me levantar. E somete por ontem eu comi tanto que o meu remorso me fez expelir brutalmente cada pedaço, desfinhando cada gosto sentido anteriormente.
Ela sente a alegria que eu não sinto. Mesmo eu estando no trono, não sou eu a rainha. Do que importa está onde não se está? Sentir o que não se senti? Mas, mesmo assim, ter que viver morrendo aos poucos, fingindo ser quem eu nem sou. Ela é maior e não cabe em mim, é instigante as minhas dúvidas. Por que ela me escolheu? (se é que teve opção de escolhas).
Aquele pedido me arrancou tudo e me levou a loucura. Agora não tenho nada, sou um nada, não quero nada, nem mesmo a misericódia de quem não me ama. Estou mesmo cansada em tentar dizer o que eu nunca consigo dizer. Só por dizer o que quero dizer sem conseguir dizer o que tenho a dizer. Apenas dizer, num simples dizer que não tenho mais nada a dizer, a não ser que...
Estranhamente estou esperando chegar a miséria. Poder ver onde tudo isso irá chegar. Estou perdida em mim. E minha condenação perpétua. Seria essa minha mania meio sofredora? De querer e não querer. Sou mesmo uma interrogação sempre pronta para se posicionar no final de cada frase da outra. Eu e outra... eu e Outra! E somente Outra. Sempre Outra. Seria isto o que se perde num dia inteiro. Entre água e fogo, sinto-me perdidamente oca. O quanto tão pouca sou um pouco mais da outra. Deleitar-me-ei nos teus braços gelados?
Tardio
Ah! Que mundinho vazio
De mundo tanquinho
Ai de mim se pudesse, apenas com a minha vontade
Ai de mim
Mostra-lhe-ei o meu mundo
De mundo fresquinho
De tamanha surpresa poderia te causar estranheza
Arde em mim de pensar, apenas com o meu prazer
Arde em mim
Controvérsias existiriam
Mas apenas insistiriam em permancer
Sempre crescente
No seu mundo princípio
A luz que te guia é poesia
É prosa e melodia
Escrevo para te ver
E escutar você
Que me faz adormecer
Num pranto
Num canto
Num leve descanso
Hoje sei do seu tamanho
Do seu valor perante a mim
E não me envergonho de reconhecer
Que neste mundo amo mais a Você do que a mim
Mesmo sentindo tamanha dor
Ainda assim escrevo pra mim e pra Você
Nesta carta que não cabe mais nem um pouco de nós dois