segunda-feira, 2 de março de 2015

Eu falo pelos cotovelos, dedos, eu falo pelos pés, mãos e cabelos. Eu falo e falo, até demais eu sei. Da minha boca não sai uma só palavra, mas eu dou sinais que você não percebe. Quando é diálogo e você pensa que é silêncio. E eu insisto em dizer, mas você não escuta. Não é surdez. Não é silêncio. Nem falta do que dizer. Nem palavras. E eu já nem sei. Me desculpe por eu ter gritado tanto ao ponto de te deixar atordoado. É que ficar meio segundo sem falar é algo que ainda não sei fazer.  Eu já tentei, mas não consigo. É que quando estou com você não sei o que me dá, não paro de falar. Eu só falo e falo, e grito e grito alto. Me perdoe pelas vezes que te acordei no meio da madrugada, eu tentei te contar meus segredos, mas você não escuta, não entende nada. Talvez se você tivesse dado um pouco mais de atenção aos sinais que eu te dou, entenderia que existem diversas formas de dizer sem palavras o que sinto por você. Me perdoe as vezes que te liguei xingando, os meus sentimentos são malcriados. E de tanto querer dizer, sentir, em vão eu te perdi ao pensar que sem você eu não seria mais a mesma. Ou pensei, sei lá, que entre eu e você nada existia e isso era só bobagem, medos, insegurança tola. Tentei fugir, ao mesmo tempo que te seguia, permanecia entre te querer e não te ter e isso para mim é como perder   um pouco de nós, mesmo sabendo que o nós era só fantasia. Tentei me proteger fazendo da minha dor uma droga de sentimento que eu neguei para mim mesma. Eu me enganei, me escondi, tentei não sentir, mas a voz dentro de mim gritava mais alto do minhas palavras abafadas. Desculpe esse meu jeito estranho de gostar, de dizer, sem saber dizer, mas é que sem eu e você não tem sentido. O discurso é breve, é curto, o verbo é simples e complexo ao mesmo tempo que as palavras dizem sem dizer uma só voz, um breve sussurro, o meu sentimento é mudo para quem não sabe entender esse meu jeito de dizer. E é também bruto, intenso ao ponto de te sufocar por dentro. Desculpa esse meu jeito. Perdoa.

Eu sei, eu dei voltas e voltas, e voltei a te procurar achando que havia perdido algo que não se perde por não se ter. Ou algo que já temos antes de ter. Sem saber. Sem sentir. Ou apenas se dar ao prazer de entender um pouco mais, o que se passa dentro de nós, eu sei é difícil demais. A gente se perde tentando se encontrar. A gente se encontra perdido na pureza complexa do nosso próprio ser. A gente grita sem dizer nada com nada. Eu sofri por deixar passar despercebido o que a vida vinha me oferecendo enquanto insistentemente procurava por algo que eu já tinha.

Por quantas vezes eu já chorei sem saber o motivo, sem entender, sem por que. E em vão eu já falei comigo mesma, gritando palavras sem tradução. Às vezes  sinto falta de algo sem saber o que é exatamente. Em meio a multidão eu te encontrei, entre tantos que me perdi tentando te encontrar sem saber que você já era meu antes mesmo de entender os motivos que me levaram até você. Há quem consiga gritar sem saber o que dizer. E suportar os silêncios que falam muito mais que palavras. Se tantas vezes eu escutei as minhas dores sem dizer nada e superei e reconstruí tudo aqui dentro, só pra te dizer que eu não entendo muito bem o que você diz. Nem você. Mas o meu sentimento já tentou tantas vezes dizer em vão o que eu sinto por você na esperança de sermos só mais uma vez um pouco de nós. O muito que já fomos, mesmo sozinha não estava só. Desculpe a minha covardia teimosa que me impede de seguir, de continuar com você. E eu me perdi, sumi, fiquei longe, sem te ver. Sabe o que é... só não quero que você seja mais alguém que eu possa chorar quando resolver dizer o que eu também não sei dizer. Pois entender seria apenas um detalhe a mais. Sei que pode parecer pouco mesmo sendo muito e por muito tempo. Sei que pode parecer loucura pensar que mesmo quando é ruim é sempre bom. Sei que tenho tudo que preciso, mas mesmo assim quero você. Me perdoe pela loucura que eu sou, por parecer tão pequena e ao mesmo tempo ser tão grande que devasta todo o seu ser. Eu sou você, e você não percebe. Eu tenho uma alma que canta, que fala, que grita na esperança de um dia, por um segundo só que seja, eu consiga me escutar mesmo sem decifrar ou traduzir ou entender o que eu digo. Mas não entendo como pode alguém parecer tanto comigo.

Texto: Laila Guedes

*Imagem que ilustra a coluna Traços, riscos e rabiscos.

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