Depois que você dirigi sozinha, aprende onde fica o macaco do seu carro,
a trocar pneu, óleo, mas que nunca conserta aquele barulho chato da mala que te
incomoda. Que o trânsito se torna cada dia mais chato, mesmo com o som alto do
carro. E tem a certeza quem será a motorista da vez.
Depois que você almoça sozinha, percebe que o macarrão já não é tão
maneiro. Que a carne é macia, mas não tem o mesmo sabor. E que comida doutro
dia esquecida do lado de fora da geladeira estraga, o que também faz a barriga
doer.
Depois que você vai ao cinema sozinha, percebe que é mais fácil
encontrar uma única cadeira vazia. Que pode comer pipoca toda enrolada num
casaco velho, colocar os pés na cadeira da frente, e chorar que nem boba no
final do filme. E que quando as letras começarem a subir, vai perceber que você
só tem você mesma para comentar o que achou do filme, mas não comenta, já que
compartilha da mesma opinião.
Depois que você volta pra casa sozinha, olha pra cama que está cada dia
mais enorme. Perdi o apetite, quase nem janta, faz um lanchinho.
Depois que você bebe sozinha, percebe que não sabe abrir uma garrafa de
vinho. Que a primeira rolha, inevitávelmente você despedaça ou deixa entrar na
garrafa junto com o vinho. Que uma garrafa é muito, e que eu já estou
beeee...beeee...beeeebinha.
Depois que você fica sozinha com você mesmo, percebe os motivos que te
fez ser tão importante na vida de outro alguém, mesmo errando muitas vezes.
Quando eu comecei a escrever, estava sozinha. Ele chegou antes do vinho
e parece que foi tomar banho, trocar de roupa, ou talvez criar coragem pra
dizer "vem dormir comigo", não tenho certeza. Só sei que, quando fui
dormir com ele, fiquei pensando por que às vezes a gente precisa ficar sozinha
para ter a certeza de que juntos podemos aprender bem mais.
Texto: Laila Guedes
*** Agradecimento especial a Valentina Contreras, que gentilmente cedeu as imagens de seus trabalhos.
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