segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

NÃO SEI (WISH YOU WERE HERE)

A pior parte do dia é ter que ir sem saber quando irei voltar. É que, eu queria ficar um pouco mais. Pra falar a verdade, queria apenas ficar. Porque é tão difícil dizer adeus a você?

E eu que em inúmeras vezes não disse nada, nem um até logo, a gente se vê, ou um simples tchau. Desde a última vez em que nos vimos, a garganta meio que travou, e me faltou o ar, as palavras. Eu não sei por onde andas, eu “não sei”, até queria ter dito alguma coisa, mas não consegui. Isso tudo acontece involuntariamente, e muitas vezes ganho fama de indecisa por não dizer nada (enquanto o normal seria dizer algo). E você não sabe, mas, assim que entrei no carro e fui embora, a tristeza se transformou em algo que ultrapassa a própria tristeza.

“Não sei” se você lembra bem daquela terça-feira, era quase madrugada, e a gente não dormia. Era quase um grito de dor, e a gente não sentia. Era quase um ato de confessar o que aquele romance queria de nós, ou talvez o que gostaria que fôssemos. O que ele insistia em nos fazer sentir, e nos tocar verdadeiramente, sem muita pressa de ser visceral. Tinha inocência, era indefeso aquele romance, muitas vezes frágil. De pontuadas emoções fortes, lentas, intensas, e pura. No verso de uma canção que implora incansavelmente por nós. O romance sentiu na pele as dores que os nossos corações não sentiram.

Queria que você estivesse aqui – e te contar que fui eu que te liguei aquelas vezes sem dizer nada só pra escutar a sua voz. E que apaguei tudo que estava escrevendo, e escrevi novamente repetidas vezes. É que eu me sinto infantil demais em confessar certas coisas. Já passei a mão no cabelo a cada cinco segundos, pegando um pedaço e enrolando nos dedos até o final. É que eu não sei bem o que fazer quando estou com você. Onde colocar as mãos, o que dizer, se digo, se não digo. Por isso, acabo não dizendo nada. Você desperta a minha covardia, que sempre espera por você. E ela grita: faz alguma coisa, por que eu “não sei” o que fazer nos dias que eu penso em você. Chego a pegar o telefone para te ligar, mas não ligo esperando que você faça antes de mim.

Eu sei que muita coisa mudou, mesmo que você não perceba, ou perceba. Aliás, eu “não sei” se você carrega esse “não sei” consigo também. Essa incerteza que massacra e faz lacrimejar sem nem chorar. É justamente esse “não sei”, uma simples expressão com duas palavras que me dá uma tremenda coceira por dentro. “Não sei” se você pensa em mim, “não sei” se ainda me quer, “não sei” se ainda causa alvoroço, “não sei” a impressão que ficou. “Não sei” se seremos, não sei, não sei. Esse “não sei” é o que aperta e me apunhala lentamente todos os dias… Não sei, não sei… “Não sei” é um paraíso do inferno, é a possibilidade impossível, é a combinação da certeza com a incerteza, é o quase que não sustenta quase nada, quando se quer tudo… “Não sei” é vago e amplo. É dor aliviada, e “não sei” tantas vezes também é “sim, eu sei” disfarçadamente. É que esse “não sei” me fez prometer coisas que não se pode cumprir sozinho. E isso me incomoda. É mais fácil dizer “não sei” quando se tem dúvida, ou mais prudente, ou mais comum, ou mais normal? Não, não é! O coitado do “não sei” só sabe que é dúvida e todo o resto ele só tenta saber, mas fica louco e desiste. O “não sei” é de uma simplicidade que o torna ainda mais cheio de dúvidas.

Nove minutos é o tempo que demoro pra escovar os dentes. Como eu queria que você estivesse aqui, pra te ver ri de mim com a boca cheia de espuma branca que a pasta faz quando a gente escova e escova, e depois cospe e joga fora. Pra te dizer que o melhor momento do dia é quando você cola o rosto na minha barriga, e me deixa imóvel. Pra revelar que eu não sou muito de tomar café com leite, mas com você eu gosto. É que falo “iogute”, assim mesmo sem o “r”, que nem criança, por isso eu nunca peço. Tão boba eu, tão boba. Você nem sabe dessas coisas.

Nove minutos é o meu recorde sem pensar em você, eu “não sei”, não tenho tanta certeza, acho que sim. E que importância tem se são minutos ou segundos, é sempre pela primeira vez. A quarta faixa do nono álbum da banda britânica de rock canta tudo o que eu não cantei. E daí que eu “não sei”, é sempre pela primeira vez, quando a música toca. E você me olha no exato momento em que o Pink Floyd se faz marcante ao protestar Wish You Were Here. Imagino como seria diferente se a nossa música fosse conjugada no presente, mas, “não sei”.
***Crônica para o site www.ativarsentidos.com.br

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